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Ciclone
Imagem: Internet
DOROTHY Gale vivia feliz com os tios,
Henry e Ema, no coração do território do Kansas, nos Estados Unidos. A casa,
feita de madeira, tinha apenas um cômodo grande. Dentro, um velho fogão a
carvão, um guarda-comida, uma mesa, quatro tamboretes, a cama de casal e um
estrado para Dorothy. Não havia uma flor, um ornato. O único livro era a velha
Bíblia. Numa das paredes, o retrato de Tia Ema ao lado do marido, tirado no dia
do casamento. Acinzentado pela ação do tempo, mas ainda dava a ideia de como
eram jovens e belos. Com dezoito anos, ela prendia entre os dedos um pequeno
buquê de flores campestres.
Tia Ema envelhecera em pouco tempo. Com
o sol e o vento castigando seu rosto perdeu o rubor dos lábios e das faces, a
pele acinzentou-se. Os cabelos, que eram arruivados, ficaram brancos. Sempre
enrolados sobre a nuca, presos por um antigo pente de tartaruga. Quando Dorothy
foi morar no Kansas, levou muito tempo para se acostumar com a jovialidade da
sobrinha, mas desde o início admirava a menina por ser tão alegre em lugar tão
triste, tão cinza.
Como também mostra a fotografia, tio
Henry era bem apessoado nos seus vinte anos, o rosto liso e, pegado ao nariz, apenas
um bigodinho ralo. Ocorridos 50 anos, transformou-se num senhor pesado, sobrancelhudo
e barbudo que passava o dia fumando um cigarrinho de palha, continuamente preso
entre os dentes. Vestido com um surrado macacão de lona, que só tirava para
lavar, assim como as botas de couro, sujas de tanto pelejar no estábulo, tinha
orgulho de morar no Kansas.
Dorothy tinha doze anos. Mocinha de pele
clara e olhos de um azul polar encantador. Os cabelos, amarelos como cachos de
trigo, feitos em duas longas tranças eram a paixão da tia Ema. Forte e cheia, ela
vivia apertada num vestido puído de chita. Sua única diversão era brincar com
Totó, um cãozinho bastante alegre, sempre ao seu lado.
Na casa, não havia sótão nem porão. Só
um enorme buraco cavado no chão, onde a família se abrigava durante os
furacões. Um buraco anticiclones, como dizia tio Henry. Para se esconder ali,
desciam pelo alçapão num canto do cômodo.
Em torno da morada, destacava a extensa
campina acinzentada, coberta por relva com as extremidades de suas hastes
torradas pelo sol. Nada de árvores, nada de verde, tudo muito árido. Nenhuma
vila, nem mesmo uma casa vizinha. Tudo era cinzento, inclusive a casa de tio
Henry. Pintada há tempos de branco, tornou-se cinzenta e melancólica, como tudo
em volta.
Certo dia, o céu amanheceu carregado,
mais cinza. O vento arrastava ondas de capim para todos os lados, um barulho
ensurdecedor. Tio Henry, sentado na soleira da porta estava a horas examinando
o mau tempo. Em pé, ao seu lado, Dorothy com o Totó nos braços, também olhava o
céu, enquanto tia Ema, lá na pia, lavava louças. De repente, tio Henry
levanta-se e observa:
- Mau sinal, gente, vejam a cólera dos
deuses! Como essas coisas da natureza não têm hora para acontece, acho que vem
aí um ciclone – e virando-se para a mulher - Ema, tome conta da garota que vou
cuidar dos bichos.
O velho corre para o curral, já berrando
pelo nome os animais. Tia Ema, assustada com a violência do vento, larga o
trabalho, e desce para o esconderijo, gritando:
- Dorothy!... Dorothy!... Depressa,
menina, corra para cá.
Totó escapa dos braços de Dorothy e se
esconde debaixo da cama. A menina tenta agarrá-lo, suplicando:
- Totó, venha cá. Depressa, seu
maluquinho!
Quando Dorothy finalmente segura o
cachorro e seguia em direção ao abrigo, uma rajada de vento abala tudo com
violência, mal dando para aguentar. A casa desprende-se do chão, rodopia duas
vezes no ar e, como um balão, começa a voar.
- Trem mais esquisito! – murmura a
menina, quase morrendo de medo.
Dorothy sem saber como agir, acha melhor
ficar quietinha num canto da casa. Totó latia feito doido correndo sem parar de
um lado para o outro. Passava tão perto da portinhola aberta para o sótão que,
de repente, foi tragado pelo vento para fora da casa.
A menina entra em desespero. Chora e
grita pelo cão, imaginando que pouco ou nada poderia fazer pelo amigo. Mas, logo
se anima ao avistar as orelhas de Totó aparecendo e desaparecendo na boca do
alçapão - a forte pressão do vento fazia o corpo do animal flutuar. Imediatamente,
limpa as lágrimas com a costa das mãos, engatinha-se até ele, pega firme em
suas orelhas e puxa-o para dentro de sua casa flutuante. Feliz, aperta o cão no
colo e pula para a cama, pensando ser um lugar mais seguro para viajarem em condições
misteriosas, sozinhos mundo afora.
- Que susto, hein?
Agarradinha a Totó acaba adormecendo,
apesar do balanço da casa e do barulho do vento.
1 comment:
Como vivem em que trabalham os tio de dorothy
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