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Ilustração original, 1900
Imagem: Internet
Três dias se passaram sem que Dorothy
tivesse notícias de Oz. Foram dias tristes para ela ao lado dos seus amigos que
estavam felizes e contentes com a nova vida.
O Espantalho sentia-se o melhor de todos
os homens com as ideias que buliam, sem parar, em sua cabeça. O Homem de Lata, todo
afortunado, andava de um lado a outro, curtindo o coração que batia dentro do
peito. O Leão, nem se fala, garboso como qualquer um da sua espécie, anunciava
aos quatro cantos que podia enfrentar um exército de homens ou uma dezena dos
ferozes Kalidás. Enfim, todos estavam satisfeitos, exceto Dorothy que, mais do
que nunca, deseja regressar ao Kansas.
Para seu grande júbilo, no quarto dia, foi
recebida por Oz no Salão do Trono. Com um sorriso sobreposto entre os lábios,
ele cumprimenta Dorothy dizendo com entusiasmo:
- Creio que encontrei a maneira de fazer
você sair daqui.
- Direto para o Kansas?
- Sim.
- Como atravessar o deserto?
- Tenho planos.
- Posso saber?
- Não veio pelos ares, impulsionada por
um ciclone? Pois bem, pode cruzar o deserto da mesma forma.
- De que jeito?
- Dentro de um balão.
- Balão?!... Isso quer dizer que posso
alimentar esperanças?
- Deve.
- Como arranjar um balão nesse fim do
mundo?
Oz esfrega as mãos, radiante. Nessa
manhã, ele explodia em imaginação:
- Ah, garota, tenho guardado todo o
material para fazer um balão especial. Será confeccionado em seda revestida de
cola branca. Nada melhor para reter o ar quente.
- Ar quente?!
- Sim. O ar quente não é tão bom quanto
o gás, reconheço. Se esfriar, o balão cairá no deserto. Aí, sim, nós estaremos
perdidos.
- Nós?!... O senhor vai comigo?
Oz, com os olhos brilhando, remexendo as
pratinhas nos bolsos.
- Certamente.
- Nunca pensei que
abandonaria esse lugar.
- Têm coisas que estão em nosso destino.
Outras, não. Temos que busca-las.
- Sério. Quer mesmo deixar a Cidade das
Esmeraldas?
- Ã-Hã! Tomei essa decisão, vou mudar de
vida.
- Bateu saudades da
sua Omaha?
- Ah, sim. Até
porque a nossa casa é bem mais do que um lugar para morar, não é mesmo? É também
um lugar para viver histórias de vida.
- Claro.
Depois de um longo suspiro, o Mágico:
- Dorothy, já estou de saco cheio dessa
vida de impostor, preciso mudar de ares. Ainda bem que me censurei a tempo. Não
é só o poder que rege as relações.
- Meu caro, você é mesmo uma caixinha de
surpresas. Arre!... Estou admirada com sua deliberação!
- Na verdade estou farto de ser
prisioneiro de mim mesmo, viver escondendo dos outros. Enjoei dessa cidade sem
circo, sem poetas, sem artistas, ocupando-se somente de amontoar riquezas e enganar
as pessoas, nutrido pela ambição e pelos interesses.
- Bem, se pensa assim...
- A vida pede mais do que isso, não é mesmo?
- Claro.
- Quero voltar a trabalhar num
picadeiro. Ser livre. Tenho a convicção de que o tablado seria uma luz para
brilhar, sem nuvens, no meu novo caminho, até porque o que gente aprende na
vida pode retornar em benefício da sociedade. Concorda?
Dorothy, meio comovida:
- Pessoa inteligente como o senhor não
precisa de quem lhe dirija a consciência. Posso afirmar que ficarei contente de
tê-lo como companheiro de viagem. Imagino que deve ter bastantes casos para
contar.
Oz ri de leve, balançando a cabeça.
Escorrega-se do tamborete, corre ao quartinho de despejos e volta num minuto,
abraçado a um monte de pedaços de seda.
- Garota, se você concorda em sair daqui
pelos ares, podemos começar a trabalhar agora mesmo!
- Lógico que concordo. Dá-me isso aí que
vou ajudar a construir o nosso balão. Mãos à obra...
O Mágico passa a Dorothy agulha e linha
para emendar as tiras de seda. Depois de alguns dias de trabalho, o balão com
mais de sete metros de altura fica pronto. E, para que todo mundo admirasse a
obra de arte, Oz manda amarrá-lo em duas estacas, bem na frente do Palácio.
Para enchê-lo de ar quente, o Homem de Lata preparou uma grande fogueira.
Na manhã seguinte, louco para viajar, Oz
aparece na sacada do Palácio. Cheio de pose, o Mágico comunica ao povo que iria
visitar outro grande mágico em outro grande país, bem no meio das nuvens – duas nações
com um coração só. Mas, no
seu lugar, enquanto estivesse fora, nomeara o Espantalho para governar a Cidade
das Esmeraldas.
Ao terminar o discurso foi,
calorosamente, aplaudido pelo seu povo. Em seguida, ele pega sua pequena
bagagem e, com o boné na mão, desce as escadarias do Palácio, rindo e dando
adeus com ar majestoso a todo mundo que viera despedir de seu mandatário. Atravessa
uma multidão de curiosos até chegar à aeronave. Faz mais uma última reverência
pomposa àquela gente, salta para dentro do cesto de passageiros e chama
Dorothy, que ainda se despedia dos amigos.
- Depressa, menina, o vento está cada
vez soprando mais forte – avisa.
- Um minuto só, tenho que encontrar
Totó, perdido no meio dessa gente.
Nesse momento, uma lufada de vento forte
impulsiona o aeróstato com tanta força, que arrebenta a corda que o prendia ao
chão. Sem as trancas, o balão começa a subir com muita pressa, deixando Dorothy
em terra desesperada.
- Volte! Volte! Volte! Eu também quero
ir! – grita a menina com as mãos na boca, em cone.
- Não posso. Eu não tenho como
controlar essa máquina! – brada Oz do cesto, dando pulinhos de
alegria, ainda abananando dois lenços brancos para seu povo que se perdia na
distância.
- Eu também quero sair daqui, volte Oz –
desespera Dorothy.
Oz, lá do alto, já não conseguia ouvir a
garota gritar, mas seus olhos saltavam para fora das órbitas e os bigodes,
sobre seus dentes mal cuidados, dançavam de alegria ainda dando adeus à Terra
do Grande Oz.
- Só o vento é capaz de manobrar este
treco, porque eu não tenho nenhum controle sobre as forças da natureza. Dorothy,
até outro dia qualquer. Good Bye! Au Revoir! – berrava o Mágico aos quatro
ventos.
No chão, a multidão numa só voz, despedia
emocionada do velho Oz, enquanto Dorothy, com o coração apertado acompanhava o
balão no céu até o perder de vista.
- Good
Bye! Good Bye! Viajar, agora, só na
imaginação - pensava a menina com tristeza dentro de si, ao voltar inconsolável
para o encontro com os amigos.
* FBN© - 2013 – De como o Balão foi
Lançado aos Ares – Cap. 17 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do
original, editado no ano de 1900, por:
Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em
português - IIustr.: Imagens da Internet - Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/de-como-o-balo-foi-lanado-aos-ares.html
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