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Monday, March 28, 2005

17/XVII - DE COMO O BALÃO FOI LANÇADO AOS ARES

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Ilustração original, 1900
Imagem: Internet



 
Três dias se passaram sem que Dorothy tivesse notícias de Oz. Foram dias tristes para ela ao lado dos seus amigos que estavam felizes e contentes com a nova vida.
O Espantalho sentia-se o melhor de todos os homens com as ideias que buliam, sem parar, em sua cabeça. O Homem de Lata, todo afortunado, andava de um lado a outro, curtindo o coração que batia dentro do peito. O Leão, nem se fala, garboso como qualquer um da sua espécie, anunciava aos quatro cantos que podia enfrentar um exército de homens ou uma dezena dos ferozes Kalidás. Enfim, todos estavam satisfeitos, exceto Dorothy que, mais do que nunca, deseja regressar ao Kansas.
Para seu grande júbilo, no quarto dia, foi recebida por Oz no Salão do Trono. Com um sorriso sobreposto entre os lábios, ele cumprimenta Dorothy dizendo com entusiasmo:
- Creio que encontrei a maneira de fazer você sair daqui.
- Direto para o Kansas?
- Sim.
- Como atravessar o deserto?
- Tenho planos.
- Posso saber?
- Não veio pelos ares, impulsionada por um ciclone? Pois bem, pode cruzar o deserto da mesma forma.
- De que jeito?
- Dentro de um balão.
- Balão?!... Isso quer dizer que posso alimentar esperanças?
- Deve.
- Como arranjar um balão nesse fim do mundo?
Oz esfrega as mãos, radiante. Nessa manhã, ele explodia em imaginação:
- Ah, garota, tenho guardado todo o material para fazer um balão especial. Será confeccionado em seda revestida de cola branca. Nada melhor para reter o ar quente.
- Ar quente?!
- Sim. O ar quente não é tão bom quanto o gás, reconheço. Se esfriar, o balão cairá no deserto. Aí, sim, nós estaremos perdidos.
- Nós?!... O senhor vai comigo?
Oz, com os olhos brilhando, remexendo as pratinhas nos bolsos.
- Certamente.
- Nunca pensei que abandonaria esse lugar.
- Têm coisas que estão em nosso destino. Outras, não. Temos que busca-las.
- Sério. Quer mesmo deixar a Cidade das Esmeraldas?
- Ã-! Tomei essa decisão, vou mudar de vida.
- Bateu saudades da sua Omaha?
- Ah, sim. Até porque a nossa casa é bem mais do que um lugar para morar, não é mesmo? É também um lugar para viver histórias de vida.
- Claro.
Depois de um longo suspiro, o Mágico:
- Dorothy, já estou de saco cheio dessa vida de impostor, preciso mudar de ares. Ainda bem que me censurei a tempo. Não é só o poder que rege as relações.
- Meu caro, você é mesmo uma caixinha de surpresas. Arre!... Estou admirada com sua deliberação!
- Na verdade estou farto de ser prisioneiro de mim mesmo, viver escondendo dos outros. Enjoei dessa cidade sem circo, sem poetas, sem artistas, ocupando-se somente de amontoar riquezas e enganar as pessoas, nutrido pela ambição e pelos interesses.
- Bem, se pensa assim...
- A vida pede mais do que isso, não é mesmo?
- Claro.
- Quero voltar a trabalhar num picadeiro. Ser livre. Tenho a convicção de que o tablado seria uma luz para brilhar, sem nuvens, no meu novo caminho, até porque o que gente aprende na vida pode retornar em benefício da sociedade. Concorda?
Dorothy, meio comovida:
- Pessoa inteligente como o senhor não precisa de quem lhe dirija a consciência. Posso afirmar que ficarei contente de tê-lo como companheiro de viagem. Imagino que deve ter bastantes casos para contar.
Oz ri de leve, balançando a cabeça. Escorrega-se do tamborete, corre ao quartinho de despejos e volta num minuto, abraçado a um monte de pedaços de seda.
- Garota, se você concorda em sair daqui pelos ares, podemos começar a trabalhar agora mesmo!
- Lógico que concordo. Dá-me isso aí que vou ajudar a construir o nosso balão. Mãos à obra...
O Mágico passa a Dorothy agulha e linha para emendar as tiras de seda. Depois de alguns dias de trabalho, o balão com mais de sete metros de altura fica pronto. E, para que todo mundo admirasse a obra de arte, Oz manda amarrá-lo em duas estacas, bem na frente do Palácio. Para enchê-lo de ar quente, o Homem de Lata preparou uma grande fogueira.
Na manhã seguinte, louco para viajar, Oz aparece na sacada do Palácio. Cheio de pose, o Mágico comunica ao povo que iria visitar outro grande mágico em outro grande país, bem no meio das nuvens – duas nações com um coração só. Mas, no seu lugar, enquanto estivesse fora, nomeara o Espantalho para governar a Cidade das Esmeraldas.
Ao terminar o discurso foi, calorosamente, aplaudido pelo seu povo. Em seguida, ele pega sua pequena bagagem e, com o boné na mão, desce as escadarias do Palácio, rindo e dando adeus com ar majestoso a todo mundo que viera despedir de seu mandatário. Atravessa uma multidão de curiosos até chegar à aeronave. Faz mais uma última reverência pomposa àquela gente, salta para dentro do cesto de passageiros e chama Dorothy, que ainda se despedia dos amigos.
- Depressa, menina, o vento está cada vez soprando mais forte – avisa.
- Um minuto só, tenho que encontrar Totó, perdido no meio dessa gente.
Nesse momento, uma lufada de vento forte impulsiona o aeróstato com tanta força, que arrebenta a corda que o prendia ao chão. Sem as trancas, o balão começa a subir com muita pressa, deixando Dorothy em terra desesperada.
- Volte! Volte! Volte! Eu também quero ir! – grita a menina com as mãos na boca, em cone.
- Não posso. Eu não tenho como controlar essa máquina!  – brada Oz do cesto, dando pulinhos de alegria, ainda abananando dois lenços brancos para seu povo que se perdia na distância.  
- Eu também quero sair daqui, volte Oz – desespera Dorothy.
Oz, lá do alto, já não conseguia ouvir a garota gritar, mas seus olhos saltavam para fora das órbitas e os bigodes, sobre seus dentes mal cuidados, dançavam de alegria ainda dando adeus à Terra do Grande Oz.
- Só o vento é capaz de manobrar este treco, porque eu não tenho nenhum controle sobre as forças da natureza. Dorothy, até outro dia qualquer. Good Bye! Au Revoir! – berrava o Mágico aos quatro ventos.
No chão, a multidão numa só voz, despedia emocionada do velho Oz, enquanto Dorothy, com o coração apertado acompanhava o balão no céu até o perder de vista.
- Good Bye! Good Bye!  Viajar, agora, só na imaginação - pensava a menina com tristeza dentro de si, ao voltar inconsolável para o encontro com os amigos.
 
 

* FBN© - 2013 –  De como o Balão foi Lançado aos Ares – Cap.  17 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de 1900,  por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  - Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/de-como-o-balo-foi-lanado-aos-ares.html

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