*
Ilustração Original, 1900.
Imagem da Internet
Dorothy e seus novos amigos seguem com
dificuldade pela estrada mal conservada, suja de galhos e de folhas secas esparramadas
pelo vento. Não se via nem um pássaro fugaz, cortando o céu em seu voo brusco,
muito menos plantações de milho ou trigo, ou um animal nos campos. Mais parecia
uma terra de ninguém.
De repente, o urro de um animal selvagem,
vindo do mato, faz o Espantalho tremer de medo. Totó, com rabo encolhido entre
as pernas, corre para junto a Dorothy, sem latir, pressentindo o perigo.
- Meu Deus, será que falta muito para
chegarmos à Cidade das Esmeraldas? – questiona intrigada Dorothy.
- Não faço a menor ideia – adianta o
Homem de Lata.
- Nem eu – afirma o Espantalho.
- Queria saber.
- Bem, Dorothy, papai esteve lá uma vez.
Voltou reclamando muito da lonjura e por ser uma região muito perigosa, embora
afirmasse ser tudo muito bonito na cidade de Oz – garante o Homem de Lata.
- Estou com medo.
- Bobagens, amiga!... Você está
resguardada pelo encanto da Bruxa do Bem que, certamente, protegerá sua vida de
todo mal.
- Eu, sim. O Totó não. Isso é o que mais
me preocupa.
- Puxa calma, querida. Em caso de perigo,
tomarei conta dele – dispõe-se o Homem de Lata.
Nesse instante, rugindo na maior altura,
um Leão gigante salta para o meio da estrada. Furioso, aproxima-se do grupo e,
de cara, dá uma patada no Espantalho, jogando o boneco indefeso para cima de
uma pequena árvore seca. Não contente, faz o mesmo com o Homem de Lata que, com
a violência do ataque, vai parar com alguns amassados na lataria do outro lado
da estrada. Uma catástrofe!...
Totó late nervoso, ameaçando a fera. O
Leão, ao ver o tamanho do inimigo, logo se estende na estrada e abre a imensa
boca, ameaçando a engolir o cãozinho. Dorothy, ao perceber o perigo, avança e acerta
um tremendo tapa bem no meio do focinho do felino.
- Covarde!... Covarde!...
O Leão recua um pouco, apreensivo.
Dorothy, mais brava:
- Absurdo e totalmente selvagem, inacreditável.
Um monstro desse tamanho querendo abocanhar um animal inocente como o Totó. Deveria
se envergonhar, besta!
- Bolas, eu não fiz nada com o seu
cachorrinho – nega o Leão, esfregando o focinho com a pata.
- Não mordeu, mas queria. Você é um
covarde, viu?
- Ah, isso eu sei! – concorda o gatuno,
envergonhado.
- Covarde e metido a besta!... – esgoela
o Homem de Lata de onde estava.
Dorothy, ainda muito irritada:
- Espancar um homem de palha? Que
vergonha, meu Deus!
- Por isso que é tão leve assim – surpreende-se
o Leão ao ver a menina colocar o boneco de pé.
- Sim, de palha – repete Dorothy.
– Por isso que saiu voando para cima
daquele arbusto.
- Sim. Aposto que nem percebeu se trata
de um espantalho de pássaros.
- O outro também é de palha?
- Não. De lata – confirma a menina,
também, enquanto ajudava o Homem de Lata a se levantar.
- Hummm... Então é por isso que não se machucou
com minha patada.
- Ainda bem.
- Por que esse cãozinho continua latindo
para mim?
- Ele quer me proteger, é claro. Totó é
meu animal de estimação.
- De lata ou de palha?
- Nenhuma das duas coisas. Ele é um
cachorro de carne e osso, como eu e você.
- Tão pequeno, não é mesmo?
- Sim. Pequeno e delicado, mas muito
respeitoso.
A fera do mato reflete por um minuto.
Logo demonstra passar do selvagem ao humano:
- Só mesmo um covarde como eu para
atacar um bichinho tão inofensivo!
Dorothy, já demonstrando pena do Leão:
- Por que se diz um leão covarde?
- Nasci assim, apesar do meu temeroso
rugido. Na floresta, por onde passo, todos os animais correm de mim, achando
que sou o Rei dos Animais, mas não sou nada disso. Quando um urso, um touro ou
um homem me enfrenta, eu fujo de medo. Logo, me dei conta de que sou mesmo um
leão covarde.
- Não acredito! O Rei dos Animais não
pode ser tão covarde assim – critica o Espantalho, já recuperado do susto.
Risos. Dorothy:
- No Kansas, casos assim, a gente fala
que sofrem com a síndrome de filho do meio: quer se rebelar, mas não tem
coragem para tanto.
Ao ouvir isso, o felino abaixa a cabeça
em silêncio. Com a ponta do rabo enxuga algumas lágrimas que brotavam de seus
olhos. Depois, solta um urro triste e doído, e confessa:
- Sou um leão medroso, não vou negar.
Meu coração dispara ao menor perigo.
- Pode ser um problema de saúde – pressupõe o Homem de Lata.
- Quem é que sabe?
- Você tem cérebro? – procura saber o
Espantalho.
- Claro que sim.
- Eu não. Na minha cabeça, em vez de
miolos tem palhas. Por isso mesmo que estamos indo para a Cidade das
Esmeraldas. Eu vou pedir a Oz um cérebro.
- E eu um coração – atalha o Homem de
Lata, em tom melancólico.
Dorothy, apressada:
- E que ele me mande de volta ao Kansas.
O Leão franze a testa, interessado:
- Será que o Grande Oz me daria um pouco
de coragem?
- Acho que sim!... – anima Dorothy.
- Então, posso seguir viagem com vocês?
- Seria muito bem-vindo – aplaude o
Espantalho. – Pode nos dar proteção, assustando outras feras que surgirem no nosso
caminho.
- Eu!...
- Bem, o papo está bom, mas temos que
dar o fora daqui o quanto antes, porque são muitos os desafios pela frente –
alerta Dorothy.
O Leão, todo satisfeito, passa para o
lado de Dorothy e grupo retoma a caminhada com mais entusiasmo. A princípio, Totó não agradou desse novo
companheiro, porque não podia esquecer que quase foi vítima de seus enormes
dentes, mas logo viu que se tratava de um animal dócil.
A viagem seguia tranquila até que o
Homem de Lata, sem querer, esmagou com os pés um pequeno besouro. Chocado com o
imprevisto, quase morre de remorso. Chora tanto que as lágrimas enferrujaram as
juntas dos seus maxilares. Por isso mesmo, foi preciso uma boa dose de óleo
para reuntá-las.
- Que isto me sirva de lição. Para
evitar perigos, a gente deve caminhar com atenção o tempo todo, passos firmes e
o olhar atento para ver por onde pisa – reconhece o Homem de Lata, assim que pode
falar novamente.
* FBN© - 2013 – O Leão Medroso – Cap. 06 de O MÁGICO
DE OZ – Adaptação livre do original por: Welington Almeida Pinto - Categoria:
Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da
Internet – Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/o-leo-medroso.html
- 06 –
No comments:
Post a Comment