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Monday, March 28, 2005

06/VI - O LEÃO MEDROSO


*
Ilustração Original, 1900.
 
 
Imagem da Internet
 


 

Dorothy e seus novos amigos seguem com dificuldade pela estrada mal conservada, suja de galhos e de folhas secas esparramadas pelo vento. Não se via nem um pássaro fugaz, cortando o céu em seu voo brusco, muito menos plantações de milho ou trigo, ou um animal nos campos. Mais parecia uma terra de ninguém.

De repente, o urro de um animal selvagem, vindo do mato, faz o Espantalho tremer de medo. Totó, com rabo encolhido entre as pernas, corre para junto a Dorothy, sem latir, pressentindo o perigo.

- Meu Deus, será que falta muito para chegarmos à Cidade das Esmeraldas? – questiona intrigada Dorothy.

- Não faço a menor ideia – adianta o Homem de Lata.

- Nem eu – afirma o Espantalho.

- Queria saber.

- Bem, Dorothy, papai esteve lá uma vez. Voltou reclamando muito da lonjura e por ser uma região muito perigosa, embora afirmasse ser tudo muito bonito na cidade de Oz – garante o Homem de Lata.

- Estou com medo.

- Bobagens, amiga!... Você está resguardada pelo encanto da Bruxa do Bem que, certamente, protegerá sua vida de todo mal.

- Eu, sim. O Totó não. Isso é o que mais me preocupa.  

- Puxa calma, querida. Em caso de perigo, tomarei conta dele – dispõe-se o Homem de Lata.

Nesse instante, rugindo na maior altura, um Leão gigante salta para o meio da estrada. Furioso, aproxima-se do grupo e, de cara, dá uma patada no Espantalho, jogando o boneco indefeso para cima de uma pequena árvore seca. Não contente, faz o mesmo com o Homem de Lata que, com a violência do ataque, vai parar com alguns amassados na lataria do outro lado da estrada. Uma catástrofe!...

Totó late nervoso, ameaçando a fera. O Leão, ao ver o tamanho do inimigo, logo se estende na estrada e abre a imensa boca, ameaçando a engolir o cãozinho. Dorothy, ao perceber o perigo, avança e acerta um tremendo tapa bem no meio do focinho do felino.

- Covarde!... Covarde!...

O Leão recua um pouco, apreensivo. Dorothy, mais brava:

- Absurdo e totalmente selvagem, inacreditável. Um monstro desse tamanho querendo abocanhar um animal inocente como o Totó. Deveria se envergonhar, besta!

- Bolas, eu não fiz nada com o seu cachorrinho – nega o Leão, esfregando o focinho com a pata.

- Não mordeu, mas queria. Você é um covarde, viu?

- Ah, isso eu sei! – concorda o gatuno, envergonhado.

- Covarde e metido a besta!... – esgoela o Homem de Lata de onde estava.

Dorothy, ainda muito irritada:

- Espancar um homem de palha? Que vergonha, meu Deus!

- Por isso que é tão leve assim – surpreende-se o Leão ao ver a menina colocar o boneco de pé.

- Sim, de palha – repete Dorothy.

– Por isso que saiu voando para cima daquele arbusto.

- Sim. Aposto que nem percebeu se trata de um espantalho de pássaros.

- O outro também é de palha?

- Não. De lata – confirma a menina, também, enquanto ajudava o Homem de Lata a se levantar.

- Hummm... Então é por isso que não se machucou com minha patada.

- Ainda bem.

- Por que esse cãozinho continua latindo para mim?

- Ele quer me proteger, é claro. Totó é meu animal de estimação.

- De lata ou de palha?

- Nenhuma das duas coisas. Ele é um cachorro de carne e osso, como eu e você.

- Tão pequeno, não é mesmo?

- Sim. Pequeno e delicado, mas muito respeitoso.

A fera do mato reflete por um minuto. Logo demonstra passar do selvagem ao humano:

- Só mesmo um covarde como eu para atacar um bichinho tão inofensivo!

Dorothy, já demonstrando pena do Leão:

- Por que se diz um leão covarde?

- Nasci assim, apesar do meu temeroso rugido. Na floresta, por onde passo, todos os animais correm de mim, achando que sou o Rei dos Animais, mas não sou nada disso. Quando um urso, um touro ou um homem me enfrenta, eu fujo de medo. Logo, me dei conta de que sou mesmo um leão covarde.

- Não acredito! O Rei dos Animais não pode ser tão covarde assim – critica o Espantalho, já recuperado do susto.

Risos. Dorothy:

- No Kansas, casos assim, a gente fala que sofrem com a síndrome de filho do meio: quer se rebelar, mas não tem coragem para tanto.

Ao ouvir isso, o felino abaixa a cabeça em silêncio. Com a ponta do rabo enxuga algumas lágrimas que brotavam de seus olhos. Depois, solta um urro triste e doído, e confessa:

- Sou um leão medroso, não vou negar. Meu coração dispara ao menor perigo.

- Pode ser um problema de saúde – pressupõe o Homem de Lata.

- Quem é que sabe?

- Você tem cérebro? – procura saber o Espantalho.

- Claro que sim. 

- Eu não. Na minha cabeça, em vez de miolos tem palhas. Por isso mesmo que estamos indo para a Cidade das Esmeraldas. Eu vou pedir a Oz um cérebro.

- E eu um coração – atalha o Homem de Lata, em tom melancólico.

Dorothy, apressada:

- E que ele me mande de volta ao Kansas.

O Leão franze a testa, interessado:

- Será que o Grande Oz me daria um pouco de coragem?

- Acho que sim!... – anima Dorothy.

- Então, posso seguir viagem com vocês?

- Seria muito bem-vindo – aplaude o Espantalho. – Pode nos dar proteção, assustando outras feras que surgirem no nosso caminho.

- Eu!...

- Bem, o papo está bom, mas temos que dar o fora daqui o quanto antes, porque são muitos os desafios pela frente – alerta Dorothy.

O Leão, todo satisfeito, passa para o lado de Dorothy e grupo retoma a caminhada com mais entusiasmo.  A princípio, Totó não agradou desse novo companheiro, porque não podia esquecer que quase foi vítima de seus enormes dentes, mas logo viu que se tratava de um animal dócil.

A viagem seguia tranquila até que o Homem de Lata, sem querer, esmagou com os pés um pequeno besouro. Chocado com o imprevisto, quase morre de remorso. Chora tanto que as lágrimas enferrujaram as juntas dos seus maxilares. Por isso mesmo, foi preciso uma boa dose de óleo para reuntá-las.

- Que isto me sirva de lição. Para evitar perigos, a gente deve caminhar com atenção o tempo todo, passos firmes e o olhar atento para ver por onde pisa – reconhece o Homem de Lata, assim que pode falar novamente.

 
 

* FBN© - 2013 – O Leão Medroso  – Cap. 06 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet   – Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/o-leo-medroso.html

 

 

- 06 –
 

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