Total Pageviews

Monday, March 28, 2005

09/IX - A RAINHA DOS RATOS SILVESTRES


*
Desenho original da primeira
 edição, em 1900.
 
Imagem: Internet





         O Espantalho, sentado ao lado de Dorothy, não escondia sua preocupação com a retomada da viagem.
- Será que estamos muito longe da estrada de pedras amarelas?
- Creio que não. Deve estar perto – responde o Homem de Lata.
Nesse instante, aos saltos pela grama, surge do mato um gato selvagem perseguindo uma ratinha cinzenta, que grunhia desesperadamente de medo.
- Malvado gato!... - ameaça em voz alta o Lenhador, já erguendo o machado para aplicar o golpe mortal.
Quando o Gato do Mato passa na sua frente, rapidamente, o Homem de Lata corta-lhe a cabeça com seu machado afiado. A ratinha para logo adiante e volta, agradecido:
- Obrigado por salvar minha vida.
- Não tem que agradecer – responde o Homem de Lata. – Apesar de não ter coração, não meço esforços para socorrer quem precisa de ajuda, mesmo que seja uma simples ratinha.
- Uns simples ratinha? – protesta o pequeno animal, indignado. – Pois fique sabendo que eu sou uma rainha.
- Rainha?!... – surpreende-se o lenhador.
- Sim, senhor. A Rainha dos Ratos Silvestres! – responde ela com voz empostada.
- Mil perdões, Majestade - curva-se o Homem de Lata, numa nobre reverência.
- Está perdoado. Agora, vamos ao que interessa. Você acaba de praticar uma boa e heroica ação. Mandarei condecorá-lo por ato de bravura.
Nesse momento, ofegantes de tanto correr, surgem milhares de ratinhos para resguardar a Rainha.
- Majestade!...  Majestade!... Pensamos que tivesse morrido nas garras daquele malvado gato – manifesta emocionado o porta-voz dos roedores.
- Esse estranho homem de lata me salvou. Devemos prestar a ele uma grande homenagem, como também satisfazê-lo nos menores desejos.
- Será uma honra para todos nós.
De repente Totó desperta. Ao ver aquela quantidade de ratos, ladra e salta para o meio deles, provocando uma debandada geral – perseguir roedores era uma de suas diversões no Kansas. O Homem de Lata, ligeiramente, segura o cachorro nos braços e tranquiliza a rataria:
- Voltem, voltem!... Garanto que nosso cão não fará mal a ninguém.
A Rainha, com o coração aos pulos, espicha a cabeça para fora da moita de capim em que se escondia:
- Como pode nos garantir?
- Palavra de homem de bem, Majestade.
A Rainha solta um grunhido longo e agudo. Daí a pouco, ainda desconfiados, um a um, os ratinhos voltam para junto dos caminhantes. O porta-voz dos ratos, outra vez, toma a palavra:
- A Nação dos Ratos, penhorada, está pronta para recompensar o nobre gesto desse grande Herói.
- Não se preocupe. Não se preocupe.
O Espantalho dá um salto à frente e interfere, dizendo:
- Claro que sim. Vocês podem salvar o Leão Medroso, que nessa hora está dormindo no meio do campo de papoulas.
- Um leão! – sobressalta-se a Rainha. – Nada disso, ele pode nos devorar em poucos segundos!...
- Oh, coitado! – retruca o Espantalho. - Ele é um Leão medroso.
- Leão Medroso! – exclama a Rainha, admirada.
- Isso mesmo, Majestade – abona mais uma vez o Homem de Lata.
- Então, o que podemos fazer?
- Imagino que devem ser milhares seus leais súditos, não? – pergunta o Espantalho.
- Centenas de milhares! – responde a Rainha, toda orgulhosa.
- Pois então ordene que venham todos para cá, cada um trazendo um pedaço de corda com ele.
- Combinado.
A Rainha tira do bolso um minúsculo assobio e sopra o instrumento com todo fôlego que tinha. Ao ouvirem o sinal, os melhores mensageiros da Rainha partem em todas as direções, levando a nova ordem imperial aos ratos da região.
Contente, o Espantalho vira-se para o Homem de Lata, pedindo:
- Agora, meu amigo, é preciso que construa uma carroça de madeira para transportar o Leão.
Mais do que depressa, o lenhador começa a fazer o veículo. A partir daí, ratos de todos os tamanhos iam a chegando com um bom pedaço de barbante preso entre os dentes, prontos para cumprir a missão de salvar o leão.
Dorothy também acorda. Fica espantada com tantos roedores ao seu redor. O Espantalho então conta a história que ocorreu no campo das papoulas e apresenta à garota a Rainha dos Ratos Silvestres. As duas se tornam boas amigas.
Em pouco tempo a carrinho fica pronto. Alegre, o Lenhador atrela nele milhares de ratos e, tendo como guia o Espantalho, o veículo move para o local onde o Leão Medroso dormia. Lá chegando, após um esforço ‘herculino’ para colocá-lo dentro da viatura, a Rainha ordena a seus súditos que partissem logo, porque se permanecessem muito tempo entre as flores com sua mortal fragrância, correriam o risco de adormecer também.
Mais difícil ainda foi conduzir o felino em direção ao terreno aberto. Apesar do grande número de ratos, o Homem de Lata e o Espantalho tiveram que ajudar a empurrar o veículo até Dorothy que, ao ver seu amigo salvo, agradece com entusiasmo à Rainha dos Ratos a lealdade de seu gesto.
 Cumprida a missão, cada um dos ratos sai em disparada para sua casa. A ratinha imperial, antes de ir, oferece um apito à Dorothy, dizendo:
- Vou presenteá-la com esse apito azul. Basta soprá-lo que aparecemos para atender qualquer pedido seu, viu?
- Muito obrigada
Dorothy pega o pequeno instrumento de madeira e dependura-o no pescoço. Em seguida, apanha o Totó e segura firme o cachorrinho no colo com medo dele provocar outro tumulto entre o pelotão de ratos, que aguardava para proteger sua alteza.
- Adeus, amiga! Tenha mais cuidado com os gatos!
O Homem de lata aproxima-se da Rainha e diz com voz forte, porém cheia de ternura.
- O bem com o bem se paga, não é mesmo?
Acomodados todos em volta do Leão, os amigos aguardavam com angústia que ele acordasse logo.








 
 
* FBN© - 2013 – A Rainha dos Ratos Silvestres – Cap  09 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  - Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/rainha-dos-ratos-silvestres.html
- 09 -

No comments: