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Desenho original da primeira
edição, em 1900.
Imagem: Internet
O Espantalho,
sentado ao lado de Dorothy, não escondia sua preocupação com a retomada da
viagem.
- Será que estamos muito longe da estrada
de pedras amarelas?
- Creio que não. Deve estar perto –
responde o Homem de Lata.
Nesse instante, aos saltos pela grama, surge
do mato um gato selvagem perseguindo uma ratinha cinzenta, que grunhia
desesperadamente de medo.
- Malvado gato!... - ameaça em voz alta
o Lenhador, já erguendo o machado para aplicar o golpe mortal.
Quando o Gato do Mato passa na sua
frente, rapidamente, o Homem de Lata corta-lhe a cabeça com seu machado afiado.
A ratinha para logo adiante e volta, agradecido:
- Obrigado por salvar minha vida.
- Não tem que agradecer – responde o
Homem de Lata. – Apesar de não ter coração, não meço esforços para socorrer
quem precisa de ajuda, mesmo que seja uma simples ratinha.
- Uns simples ratinha? – protesta o
pequeno animal, indignado. – Pois fique sabendo que eu sou uma rainha.
- Rainha?!... – surpreende-se o lenhador.
- Sim, senhor. A Rainha dos Ratos Silvestres!
– responde ela com voz empostada.
- Mil perdões, Majestade - curva-se o
Homem de Lata, numa nobre reverência.
- Está perdoado. Agora, vamos ao que
interessa. Você acaba de praticar uma boa e heroica ação. Mandarei condecorá-lo
por ato de bravura.
Nesse momento, ofegantes de tanto correr,
surgem milhares de ratinhos para resguardar a Rainha.
- Majestade!... Majestade!... Pensamos que tivesse morrido nas
garras daquele malvado gato – manifesta emocionado o porta-voz dos roedores.
- Esse estranho homem de lata me salvou.
Devemos prestar a ele uma grande homenagem, como também satisfazê-lo nos
menores desejos.
- Será uma honra para todos nós.
De repente Totó desperta. Ao ver aquela
quantidade de ratos, ladra e salta para o meio deles, provocando uma debandada
geral – perseguir roedores era uma de suas diversões no Kansas. O Homem de Lata,
ligeiramente, segura o cachorro nos braços e tranquiliza a rataria:
- Voltem, voltem!... Garanto que nosso
cão não fará mal a ninguém.
A Rainha, com o coração aos pulos,
espicha a cabeça para fora da moita de capim em que se escondia:
- Como pode nos garantir?
- Palavra de homem de bem, Majestade.
A Rainha solta um grunhido longo e
agudo. Daí a pouco, ainda desconfiados, um a um, os ratinhos voltam para junto
dos caminhantes. O porta-voz dos ratos, outra vez, toma a palavra:
- A Nação dos Ratos, penhorada, está
pronta para recompensar o nobre gesto desse grande Herói.
- Não se preocupe. Não se preocupe.
O Espantalho dá um salto à frente e interfere,
dizendo:
- Claro que sim. Vocês podem salvar o
Leão Medroso, que nessa hora está dormindo no meio do campo de papoulas.
- Um leão! – sobressalta-se a Rainha. –
Nada disso, ele pode nos devorar em poucos segundos!...
- Oh, coitado! – retruca o Espantalho. -
Ele é um Leão medroso.
- Leão Medroso! – exclama a Rainha,
admirada.
- Isso mesmo, Majestade – abona mais uma
vez o Homem de Lata.
- Então, o que podemos fazer?
- Imagino que devem ser milhares seus
leais súditos, não? – pergunta o Espantalho.
- Centenas de milhares! – responde a
Rainha, toda orgulhosa.
- Pois então ordene que venham todos para
cá, cada um trazendo um pedaço de corda com ele.
- Combinado.
A Rainha tira do bolso um minúsculo assobio
e sopra o instrumento com todo fôlego que tinha. Ao ouvirem o sinal, os
melhores mensageiros da Rainha partem em todas as direções, levando a nova ordem
imperial aos ratos da região.
Contente, o Espantalho vira-se para o
Homem de Lata, pedindo:
- Agora, meu amigo, é preciso que
construa uma carroça de madeira para transportar o Leão.
Mais do que depressa, o lenhador começa
a fazer o veículo. A partir daí, ratos de todos os tamanhos iam a chegando com
um bom pedaço de barbante preso entre os dentes, prontos para cumprir a missão
de salvar o leão.
Dorothy também acorda. Fica espantada
com tantos roedores ao seu redor. O Espantalho então conta a história que
ocorreu no campo das papoulas e apresenta à garota a Rainha dos Ratos Silvestres.
As duas se tornam boas amigas.
Em pouco tempo a carrinho fica pronto.
Alegre, o Lenhador atrela nele milhares de ratos e, tendo como guia o
Espantalho, o veículo move para o local onde o Leão Medroso dormia. Lá
chegando, após um esforço ‘herculino’ para colocá-lo dentro da viatura, a Rainha
ordena a seus súditos que partissem logo, porque se permanecessem muito tempo
entre as flores com sua mortal fragrância, correriam o risco de adormecer
também.
Mais difícil ainda foi conduzir o felino
em direção ao terreno aberto. Apesar do grande número de ratos, o Homem de Lata
e o Espantalho tiveram que ajudar a empurrar o veículo até Dorothy que, ao ver
seu amigo salvo, agradece com entusiasmo à Rainha dos Ratos a lealdade de seu
gesto.
Cumprida a missão, cada um dos ratos sai em
disparada para sua casa. A ratinha imperial, antes de ir, oferece um apito à
Dorothy, dizendo:
- Vou presenteá-la com esse apito azul.
Basta soprá-lo que aparecemos para atender qualquer pedido seu, viu?
- Muito obrigada
Dorothy pega o pequeno instrumento de
madeira e dependura-o no pescoço. Em seguida, apanha o Totó e segura firme o
cachorrinho no colo com medo dele provocar outro tumulto entre o pelotão de ratos,
que aguardava para proteger sua alteza.
- Adeus, amiga! Tenha mais cuidado com
os gatos!
O Homem de lata aproxima-se da Rainha e
diz com voz forte, porém cheia de ternura.
- O bem com o bem se paga, não é mesmo?
Acomodados todos em volta do Leão, os
amigos aguardavam com angústia que ele acordasse logo.
* FBN© - 2013 – A Rainha dos
Ratos Silvestres – Cap 09 de O MÁGICO DE
OZ – Adaptação livre do original por: Welington Almeida Pinto - Categoria:
Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da
Internet - Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/rainha-dos-ratos-silvestres.html
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