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Monday, March 28, 2005

05/ V - O HOMEM DE LATA


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                                                                                     Imagem: Internet




Quando Dorothy acordou, o sol ia alto. Totó perseguia os pássaros e os esquilos, se divertindo como nunca.
- Precisamos buscar água – lembra Dorothy.
- Para quê? – pergunta o Espantalho.
- Uai!... Para beber. Lavar o rosto, também.
- Ainda bem que não preciso disso.
– Nós de carne e osso, sim. Precisamos comer uma comida saudável, dormir um bom sono e beber água potável todo dia.
- Potável!... O que é isso?
- Água limpa e pura, própria para o consumo.
- Bem, então vamos a busca de água para você e o Totó.
Imediatamente, os três deixam a cabana e andam pela floresta até encontrar um regato de água límpida. Dorothy lava o rosto, escova os dentes e senta-se numa pedra para merendar com Totó. De repende, escuta um gemido agonizante.
- Que será isso? – pergunta a menina, apreensiva.
- Nem imagino, parece que vem daquele lado.
Escutam outro gemido, mais dolorido.
- Vamos lá para averiguar – dispõe Dorothy.
Totó sai na frente, latindo. A menina e o Espantalho seguem atrás. Poucos metros adiante avistam um homem deitado ao lado de uma árvore tombada. Aproximam-se e viram que ele era feito de lata e estava completamente imóvel, segurando numa das mãos o machado, como se estivesse encantado por uma bruxa.
- Bom dia, rapaz – cumprimenta Dorothy.
- Bom dia, menina – responde o Homem de Lata, gentilmente.
- Você que gemeu ainda a pouco?
- Sim. Há mais de um ano faço isso, mas ninguém aparece para me socorrer.
- Podemos ajudá-lo?
- Pode, sim. Busque a lata de óleo na minha cabana e lubrifique minhas juntas, estão enferrujadas. Depois disso, ficarei bom novamente.
Dorothy corre à casa do homem de lata, justamente, onde passou a noite com o Espantalho e Totó, e volta com a lata de óleo.
- Começo por onde? – pergunta.
- Pelo pescoço – pede o homem de lata.
A menina lubrifica todas as articulações do seu pescoço. Estava tão emperrado que o Espantalho foi obrigado a pegar a cabeça do homem de lata, movê-la lentamente de um lado para o outro, até voltar a funcionar sozinha. Em seguida, foi a vez das juntas dos braços e das pernas.
Livre da ferrugem, o homem de lata suspira com alívio:
- Obrigado. Sem ajuda de vocês, passaria o resto da vida nesse lugar, totalmente imobilizado.
- Não se preocupe. Faríamos isso para qualquer um numa situação desta.
- Belo gesto, menina. Qual o seu nome?
- Dorothy. E o seu?
- Quando era de carne e osso, chamava Tonhão. Depois que fui reconstruído com folha de flandres, o pessoal começou a me chamar de Homem de Lata.
- Então era de carne e osso?
- Ã-hã.
- Aposto que foi encantado pela bruxa má!
- Mais ou menos. Depois, eu explico como aconteceu para vocês.
- Adoro ouvir histórias.
- Pois então, Dorothy, vai gostar de minha. Agora, me conta o que fazem por aqui?
- Vamos à Cidade das Esmeraldas para falar com o grande Mágico de Oz.
- Para quê?
- Quero voltar ao Kansas. O Espantalho vai pedir um cérebro a ele.
O Homem de Lata, depois de pensar um instante:
- Não tenho coração. Será que Oz me daria um?
- Acho que sim. Seria tão fácil como dar cérebro ao Espantalho.
- É verdade! – concorda o Homem de Lata. – Posso acompanhá-los?
Depois de ficar um instante em silencio, surpreendida com a pergunta, Dorothy responde:
- É claro.
E sem esperar a opinião do Espantalho, ela emenda:
- Vai ser bom ter mais um em no nosso grupo. A união faz a força, não é mesmo?
Totó rosna mostrando certo ciúme. E o boneco de palha balança a cabeça, anuindo.
O Homem de Lata agradece. Apoia o machado no seu ombro e os quatro partem para a Cidade das Esmeraldas numa conversa animada. Não andaram muito e o Espantalho leva o primeiro tombo do dia, tropeçando numa pedra no meio do caminho.
- Por que não pulou a pedra? – quis saber o novo companheiro de jornada.
- Não tenho cérebro. No lugar dele, apenas palhas. Por isso não raciocino direito.
- Ah, é!...
- Espero ganhar um cérebro de Oz.
Pausa. O Homem de Lata:
- Para mim, cérebro tem pouca importância.
- Isso porque você deve ter um bom cérebro – apressa o Espantalho.
- Não. Minha cabeça é completamente oca. Mas já tive cérebro e coração. Por ter experimentado os dois, prefiro mil vezes o coração.
- Uai, por quê?
- É uma longa história.
- Prometeu contar para nós – recorda Dorothy.
- Sim, já que insistem. Sempre fui uma criatura de espírito rústico e selvagem, filho de um casal de lenhadores. Com esse temperamento forte só a longo prazo é que conseguia agradar aos outros, mesmo assim se quem me contemplava tivesse ao menos um grão de indulgência.
- É mesmo? – pergunta Dorothy, surpresa.
- Foi o que aconteceu com uma bonita jovem da minha aldeia. Rapaz novo e inquieto logo me apaixonei pela donzela. E, como vi que ela também ficou caída de amores por mim, combinamos casar o mais rápido possível. Mas, quando ela disse à sua velha patroa, com quem trabalhava há muitos anos, que ia se casar e mudar para outra cidade, o pior aconteceu.
- Aconteceu o quê? – pergunta o Espantalho preocupado.
- Vendo que a criada ia sair de sua casa, a senhora procurou a Bruxa Malvada e ofereceu duas ovelhas e uma vaca para impedir nosso casamento.
Nesse ponto da história, o Homem de Lata faz uma pausa, como se estivesse colocando as ideias em ordem. E continua:
- Não deu outra, a Bruxa Malvada enfeitiçou meu machado. Um dia, quando trabalhava, a ferramenta escapuliu de minhas mãos e cortou-me a perna esquerda. Tive que ir a um funileiro para improvisar outra perna. De lata, é claro. Ficou tão boa quanto de carne e osso. A Bruxa, ao saber da nova perna, não se conteve e me castigou de novo.
- Como assim? – pergunta Dorothy, ansiosa.
- Acreditem!... Mal voltei ao trabalho, da mesma forma o machado decepou minha perna direita – o funileiro outra vez quebrou meu galho. Depois, fiquei sem os braços – mais uma vez o funileiro colocou em mim braços de lata.
E depois de um suspiro:
- Mesmo assim, acham que a Bruxa Malvada me deixou em paz?
Ele mesmo responde:
- Minha filha, a Bruxa não me dava trégua. Tiririca de raiva ordenou ao machado que me arrancasse a cabeça e partisse meu corpo em pedaços. Pela quarta vez, o bom funileiro me reconstituiu tudo em folha de flandres.
Dorothy admirada:
- Impressiona-me a habilidade desse funileiro!
- Um gênio. Como sabia que o corpo humano é uma máquina desenhada para os movimentos, ele dotou-me de dobradiças ligadas a centenas de fios resistentes e elásticos, que fazem o papel dos músculos.  É esse sistema de alta complexidade que permite deslocar meu corpo para qualquer direção. Entende?
- Entendo.
- Mas, para a minha tristeza, ele não fez coração! Sem coração, perdi todo o amor pela minha namorada. Então, desmanchei o noivado.
Dorothy leva uma das mãos à boca, admirada:
- Você perdeu uma das coisas mais importantes da vida, o amor. Sem ele, é como se você tivesse um corpo sem alma.
O Homem de Lata abaixa a cabeça, dizendo:
- Você tem razão. Por outro lado, passei a sentir orgulho do meu novo corpo de metal. Agora, resistente ao golpe de machado e, em dias de sol, brilha que é uma beleza.
- Legal.
- Hoje, só temo a ferrugem. Alerta máxima!... Por isso, ando sempre com uma lata de óleo para lubrificar minhas juntas.
- Por que quer um coração?
- Ora!... Pretendo me apaixonar de novo – afirma Homem de Lata, irradiado por uma alegria súbita.
Dorothy, com olhinhos úmidos, fica toda emocionada com a história que acabara de ouvir.




 

* FBN© - 2013 – O Homem de Lata– Cap. 05 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.:   – Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/o-homem-de-lata.html

                                                                            - 05 -



 

2 comments:

Laranjah said...

Adoro o Mágico de Oz... sou apaixonada!
O meu favorito é justamente o homem de lata.
Adorei este teu post.
tudo de bom!
ass: Larinha.

Anonymous said...

É lindo, chorei lendo. Passe no meu blog: www.palavrasdefato.blogspot.com
Beijos