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Ilustração original, 1900
Em pouco tempo, o Lenhador construiu uma
escada com troncos caídos que encontrou no bosque. Dorothy, enquanto esperava o
apetrecho ficar pronto, repousou deitada na grama, com Totó a seu lado. O Leão
também cochilou um pouco para descansar da longa caminhada.
Assim que a escada foi encostada ao
muro, o Espalhou gritou:
-
Oba! Quero ser primeiro a subir e ver o outro lado.
- Bisbilhoteiro! – graceja o Homem de
Lata.
Imediatamente, o boneco de palha começa
a subir. Mas subia tão desajeitadamente que Dorothy teve de segurá-lo pelas
pernas. Ao alcançar o quarto degrau, grita de alegria:
- Céus! Trem mais bonito, gente!
Encantado com a paisagem, o boneco
senta-se em cima do muro. Em seguida, Dorothy sobe com Totó no colo.
- Meu Deus! Que lindeza! – expressa
entusiasmada.
Depois foi a vez do Leão e do Homem de
Lata. Cada um, ao levantar a cabeça acima do muro, também exclamava:
- Que beleza!... Nunca vi nada igual.
Assentados em cima do muro, ficam um bom
tempo observando o cenário, diferente de tudo que se podia imaginar. Era uma
cidadezinha com dezenas de casinhas de porcelana de todas as cores. As maiores
mal chegavam à altura da cintura de Dorothy. Viam-se também bonitas granjas abarrotadas
de vacas, cavalos, bois, ovelhas, porcos e galinhas – tudo feito de cerâmica.
Mais estranho era o povo que vivia
naquela região, todo mundo usava um gorro cônico na cabeça. Moças cuidavam dos
animais, trajando vestidos estampados de lua dourada, princesas e príncipes
vestiam elegantes roupas de prata e ouro, e os guardinhas ficavam bem
comportados nos seus uniformes pintados de rosa, amarelo e azul.
Após um silêncio demorado, Dorothy
demonstra preocupação:
- Como vamos atravessar essa cidadezinha
tão delicada?
- Pisando em porcelanas! – brinca o
Leão, sorridente.
- É o único jeito, senhor Rei dos
Animais. Afinal, não podemos mudar de direção – conclui o Espantalho.
- Como descer para o outro lado? –
pergunta a garota, aflita.
A escada era tão pesada que não foi
possível atravessá-la por cima do muro. O Espantalho então pula e se estende no
chão para que saltassem, um a um, sobre seu corpo de palhas. Assim que todos
estavam abaixo, Dorothy levanta o boneco, todo amassado e, com tapinhas leves,
refaz a sua forma original.
Encantados com a Cidade de Porcelana, os
forasteiros andam como se pisassem em ovos. A primeira pessoa que encontraram
foi uma pastora de porcelana que tirava leite de uma vaquinha. O animal
estranha a presença dos estrangeiros e dá um coice no ar derrubando a jovem, o
banquinho de ordenha e o balde de leite, além de quebrar a pata.
A moça, zangada:
- Como se atrevem a vir aqui assustar
minha vaca?
- Eu sinto muito, perdão – pronuncia
Dorothy, comovida.
- Vejam o estrago que vocês fizeram! Agora
tenho que emendar a perna desse animal.
Dorothy pede desculpas mais uma vez pelo
acidente. A mocinha nem responde, sai resmungando a puxar para longe a vaquinha,
coxeando em três patas restantes.
- Todo cuidado é pouco ao andar nessa
cidade de porcelana – alerta o Homem de Lata.
Mais adiante, encontram uma linda mocinha
vestida com roupas coloridas. Ao ver o grupo, ela corre e para a certa
distância. Dorothy grita:
- Você é muito bonita, garotinha.
Gostaria de levá-la para o Kansas.
- Sinto muito. Sou muito feliz aqui. Daqui
não saio e ninguém me tira, viu?
- No Kansas...
Antes de Dorothy terminar a frase, a
mocinha completa:
- Longe da Cidade de Porcelanas minhas
juntas vão endurecer. Nunca mais poderia me mover, além de ficar muda para
sempre, enfeitando as prateleiras de uma sala de visitas qualquer. Aí, sim, me
sentiria muito triste.
- Oh!... – exclama Dorothy, penalizada.
– A beleza é muito bonita, mas esqueça o que eu disse. Por nada nesse mundo
faria infeliz criaturinha tão linda como você! Adeus, querida!
- Adeus! – repete a moça, acenando para
eles.
Redobrando cuidados, os cinco amigos
continuam a travessia pela Cidade de Porcelana. Nas janelas, pessoas debruçadas
olhavam com desconfiança o grupo passar, receosas que eles pudessem provocar acidentes
mais graves no lugar.
Mas, num instante chegam ao fim da
cidade, onde o muro era mais baixo. Subindo nas costas do Leão, todos pularam
para fora. Na vez do felino saltar, ele abana o rabo com tanta força, que espatifa
uma igrejinha de porcelana ao seu lado.
Dorothy pensa repreender o amigo, mas
apenas comenta pesarosa:
- Felizmente a Igreja estava vazia.
O Leão abaixa a cabeça, arrependido pela
falta de atenção, dizendo:
- Ainda bem que só estragamos uma perna
de uma vaca, um balde de leite e uma Igreja!
- As pessoas e as coisas desse lugar são
frágeis demais! – conclui o Espantalho, tentando melhorar o clima entre os
companheiros.
E sorrindo:
– Nessa hora me muito alegro de ser de palha.
* FBN© - 2013 – A Delicada Cidade de
Porcelana – Cap. 20 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do
original, editado no ano de 1900, por:
Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em
português - IIustr.: Imagens da Internet - Link:
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