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Monday, March 28, 2005

20/XX - A DELICADA CIDADE DE PORCELANA


*
Ilustração original, 1900
 

 
Imagem: Internet



 

Em pouco tempo, o Lenhador construiu uma escada com troncos caídos que encontrou no bosque. Dorothy, enquanto esperava o apetrecho ficar pronto, repousou deitada na grama, com Totó a seu lado. O Leão também cochilou um pouco para descansar da longa caminhada.

Assim que a escada foi encostada ao muro, o Espalhou gritou:

 - Oba! Quero ser primeiro a subir e ver o outro lado.

- Bisbilhoteiro! – graceja o Homem de Lata.

Imediatamente, o boneco de palha começa a subir. Mas subia tão desajeitadamente que Dorothy teve de segurá-lo pelas pernas. Ao alcançar o quarto degrau, grita de alegria:

- Céus! Trem mais bonito, gente!

Encantado com a paisagem, o boneco senta-se em cima do muro. Em seguida, Dorothy sobe com Totó no colo.

- Meu Deus! Que lindeza! – expressa entusiasmada.

Depois foi a vez do Leão e do Homem de Lata. Cada um, ao levantar a cabeça acima do muro, também exclamava:

- Que beleza!... Nunca vi nada igual.

Assentados em cima do muro, ficam um bom tempo observando o cenário, diferente de tudo que se podia imaginar. Era uma cidadezinha com dezenas de casinhas de porcelana de todas as cores. As maiores mal chegavam à altura da cintura de Dorothy. Viam-se também bonitas granjas abarrotadas de vacas, cavalos, bois, ovelhas, porcos e galinhas – tudo feito de cerâmica.

Mais estranho era o povo que vivia naquela região, todo mundo usava um gorro cônico na cabeça. Moças cuidavam dos animais, trajando vestidos estampados de lua dourada, princesas e príncipes vestiam elegantes roupas de prata e ouro, e os guardinhas ficavam bem comportados nos seus uniformes pintados de rosa, amarelo e azul.  

Após um silêncio demorado, Dorothy demonstra preocupação:

- Como vamos atravessar essa cidadezinha tão delicada?

- Pisando em porcelanas! – brinca o Leão, sorridente.

- É o único jeito, senhor Rei dos Animais. Afinal, não podemos mudar de direção – conclui o Espantalho.

- Como descer para o outro lado? – pergunta a garota, aflita.

A escada era tão pesada que não foi possível atravessá-la por cima do muro. O Espantalho então pula e se estende no chão para que saltassem, um a um, sobre seu corpo de palhas. Assim que todos estavam abaixo, Dorothy levanta o boneco, todo amassado e, com tapinhas leves, refaz a sua forma original.

Encantados com a Cidade de Porcelana, os forasteiros andam como se pisassem em ovos. A primeira pessoa que encontraram foi uma pastora de porcelana que tirava leite de uma vaquinha. O animal estranha a presença dos estrangeiros e dá um coice no ar derrubando a jovem, o banquinho de ordenha e o balde de leite, além de quebrar a pata.

A moça, zangada:

- Como se atrevem a vir aqui assustar minha vaca?

- Eu sinto muito, perdão – pronuncia Dorothy, comovida.

- Vejam o estrago que vocês fizeram! Agora tenho que emendar a perna desse animal.

Dorothy pede desculpas mais uma vez pelo acidente. A mocinha nem responde, sai resmungando a puxar para longe a vaquinha, coxeando em três patas restantes.

- Todo cuidado é pouco ao andar nessa cidade de porcelana – alerta o Homem de Lata.

Mais adiante, encontram uma linda mocinha vestida com roupas coloridas. Ao ver o grupo, ela corre e para a certa distância. Dorothy grita:

- Você é muito bonita, garotinha. Gostaria de levá-la para o Kansas.

- Sinto muito. Sou muito feliz aqui. Daqui não saio e ninguém me tira, viu?

- No Kansas...

Antes de Dorothy terminar a frase, a mocinha completa:

- Longe da Cidade de Porcelanas minhas juntas vão endurecer. Nunca mais poderia me mover, além de ficar muda para sempre, enfeitando as prateleiras de uma sala de visitas qualquer. Aí, sim, me sentiria muito triste.

- Oh!... – exclama Dorothy, penalizada. – A beleza é muito bonita, mas esqueça o que eu disse. Por nada nesse mundo faria infeliz criaturinha tão linda como você! Adeus, querida!

- Adeus! – repete a moça, acenando para eles.

Redobrando cuidados, os cinco amigos continuam a travessia pela Cidade de Porcelana. Nas janelas, pessoas debruçadas olhavam com desconfiança o grupo passar, receosas que eles pudessem provocar acidentes mais graves no lugar.

Mas, num instante chegam ao fim da cidade, onde o muro era mais baixo. Subindo nas costas do Leão, todos pularam para fora. Na vez do felino saltar, ele abana o rabo com tanta força, que espatifa uma igrejinha de porcelana ao seu lado.

Dorothy pensa repreender o amigo, mas apenas comenta pesarosa:

- Felizmente a Igreja estava vazia.

O Leão abaixa a cabeça, arrependido pela falta de atenção, dizendo:

- Ainda bem que só estragamos uma perna de uma vaca, um balde de leite e uma Igreja!

- As pessoas e as coisas desse lugar são frágeis demais! – conclui o Espantalho, tentando melhorar o clima entre os companheiros.

E sorrindo:

– Nessa hora me muito alegro de ser de palha.

 
 
 

* FBN© - 2013 – A Delicada Cidade de Porcelana  – Cap.  20 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de 1900,  por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  - Link:

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