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Ilustração original da edição do
ano de 1900.
Imagem da Internet
Dorothy e os companheiros, mesmo com
óculos protetores, sentiam os olhos um pouco ofuscados pelo brilho da Cidade
das Esmeraldas. As ruas, como se fossem fabricantes de beleza, eram todas calçadas
com pedras verdes de mármore e ladeadas por lindas casinhas com vidro verde nas
janelas. Nas lojas, tudo era verde, também os doces e pipocas. Obra
ambiciosa, um cartão postal, revelando o grande sonho de Oz , que vocábulo nenhum poderia descrever a sua beleza e o seu encanto
magnético, onde o pôr do sol é um espetáculo à parte.
Homens, mulheres e crianças cruzavam sem
parar de um lado para outro nas praças e jardins, todos vestidos de verde.
Quando deparavam com os estrangeiros, olhavam cheios de curiosidade para Dorothy
e seu estranho cortejo. As crianças, demonstrando medo, escondiam-se atrás das
mães ao ver o Leão.
Os visitantes sem ligar para o que os
outros pensavam, desfilavam por diversos lugares, dobravam esquinas, subiam e
desciam ladeiras. Totó, sem latir, andava ora na frente, ora atrás, ou no meio
do grupo, achando estranho não encontrar animal de sua espécie, ou mesmo gato,
a perambular pelas vias públicas. Não havia nem cavalos puxando carroças,
porque os carregadores transportavam objetos em carrinhos de mão. Mas, todos
pareciam felizes e bastante prósperos.
Em pouco mais de uma hora, o grupo chega
ao Palácio de Oz, o Grande Mago. Dois sentinelas, vestindo farda verde-oliva,
montavam guarda ao lado do portão real. Dorothy chama por um deles:
- Ei, sentinela, pode falar com a gente?
- Desejam ver o Grande Oz, não é mesmo? –
pergunta em tom majestoso um Guardião.
- Sim, senhor.
- Entrem. Levarei a mensagem ao Mágico.
Imediatamente, os visitantes foram
conduzidos até um salão decorado com tapetes de sisal verde e móveis de madeira
verde.
O soldado, de forma educada, tranquiliza
o grupo:
- Fiquem à vontade. Vou até a Sala do
Trono comunicar ao Grande Mágico que vocês estão aqui para falar com ele.
Uma hora mais tarde, o guardião retorna
confirmando:
- Oz abriu exceção.
- Então ele vai nos receber?
- Claro. Oz é um homem gentil e muito
prestativo.
- Legal.
- Podem aguardar.
Dorothy, cheia de curiosidades:
- Você já viu o Grande Mágico?
- Absolutamente. Nunca vi Oz. Falo com
ele por detrás de um biombo bordado de ouro.
A menina, mais ansiosa ainda:
- Dentro de quanto tempo ele vai nos
receber?
- Serão os próximos. Concederá audiência
a cada um de vocês, em separado.
- Como assim?
- Isso mesmo. Receberá um a um, em dias
diferentes.
- Dias diferentes!...
- É o que ele disse.
- Onde ficaremos?
- Não se aflija, menina. Terão a honra
de serem hóspedes especiais do Grande Mágico.
Nesse momento, o sentinela sopra um
apito verde e aparece uma moça de avental verde, cumprimentando os forasteiros.
Ela se dirige a Dorothy:
- Por favor, me acompanhe até seus
aposentos.
- E meus companheiros?
- Cada um vai ocupar um quarto diferente.
É de praxe.
- Tudo bem.
- Não se preocupe, aqui é muito seguro.
- Claro.
- Os aposentos são equipados com uma
campainha. Se precisar de alguma coisa, só tocá-la. Vamos?
Dorothy despede dos amigos, sentindo
uma pontinha de tristeza nos seus olhos. Com o Totó no colo, segue a moça de verde. Passam por
vários corredores até chegar a um dormitório com vista para os jardins do
Palácio, iluminado por uma bonita lâmpada de óleo esverdeado. Tudo muito
bonito!... A cama, coberta por lençóis de seda verde, era macia e confortável.
Na mesinha de cabeceira, descansava um montão de livros que registravam os
fatos históricos sobre o Reino de Oz. Era o quarto mais bonito que já tinha visto
na vida.
A magia do lugar
não parava por aí. Duas paredes de espelhos, uma de frente para a outra,
refletiam-se em um jogo infinito de imagens coloridas, como dentro de um
caleidoscópio. De qualquer lugar, era possivel ver seu rosto e suas costas, como
também o rosto e as costas de todo mundo no meio do cômodo. E, lá no canto da janela, havia uma
fonte pequenina, esguichando água de cheiro, que tombava numa bacia de mármore
verde. O guarda-roupa, para surpresa de Dorothy, estava cheio de vestidos de seda
e veludo confeccionados a mão. Todos do seu tamanho e igualmente verdes.
- Veja bem, Totó, lindos vestidos para
mim!... – suspira a garota, encantada.
O cachorrinho, como se entendesse, abana
o rabo, concordando. A Moça de verde, antes de se afastar, mostra a porta da casinha
para higiene pessoal e sai para cuidar dos outros hóspedes, deixando Dorothy
com mil pensamentos tramitando na cabeça. Mas, de tão cansada, ela adormece
logo.
O Espantalho e o Homem de Lata também foram
acomodados em quartos separados. O Leão teria preferido uma cama de folhas
secas nos jardins do Castelo, apesar de tantas regalias. Mas, como era animal
de bom senso, não reclamou. Aceitou o conforto de um quarto palaciano e logo
começou a roncar pesado.
No meio da manhã, a Moça de Verde entra
nos aposentos de Dorothy. Serve o café e sugere à menina usar o mais belo
vestido do guarda-roupa. Em seguida, as duas partem para a Sala do Trono.
Atravessam vários corredores e chegam a um salão, onde muitas pessoas
conversavam entre si. Ao verem Dorothy, uma delas salta da cadeira:
- Você pretende ver Oz cara a cara?
- Sim.
Nesse instante, o Sentinela toma a mão
de Dorothy:
- Vamos, garota. O Grande Oz espera por
você, embora deteste audiências.
- Serei gentil com ele, prometo.
- A princípio não queria recebê-la.
Quando disse que calçava sapatinhos de prata, Oz ficou interessado. Por fim,
quando falei da marca na sua testa, decidiu falara com você – contou o soldado.
- E meus amigos.
- Depois. Ele vai atender um de cada
vez.
- Bem, se é assim, caminhemos até lá.
Dorothy, ao entrar na Sala do Trono, se
encanta com a forma circular do salão e as paredes cobertas de esmeraldas. Mais
ainda com o teto altíssimo e côncavo, de onde descia uma luz tão brilhante
quanto o sol. Para sua admiração, em vez do Mágico, no trono estava uma cabeça
gigante, completamente careca, que desperta curiosidades e tremores na barriga.
De repente, uma voz grave ressoa por todos os lados:
- Sou Oz, o Grande!... O Terrível!...
Quem é você? E diga logo o que deseja.
A garota acha tudo estranho e
assustador. Meio gaguejando, mas sem perder a coragem, apresenta-se:
-Sou Dorothy. Venho pedir ajuda ao
Grande Oz.
- Antes me diga onde conseguiu esses
sapatos de prata?
- Eram da Bruxa Malvada do Leste. Por
azar, minha casa pousou sobre ela e a pobre morreu atropelada.
- E essa marca na testa?
- É do beijo da boa Bruxa do Norte.
- Muito bem, que mesmo quer de mim?
- Que o Grande Mágico me mande de volta
para o Kansas, onde mora minha família.
- Por que devo fazer isso por você?
- Preciso sair daqui o mais rápido
possível. Como a Bruxa do Norte disse que senhor é um mágico bondoso e cheio de
poderes, eu venho pedir seu apoio.
Pausa. Oz:
- Então, você foi capaz de matar a Bruxa
Malvada do Leste?
- Não. Não. Foi uma casualidade. Um acidente,
claro.
- Acidente?
- Não pude evitá-lo, eu juro. Quem matou
a Bruxa foi minha casa. Mas posso dizer que ela não cometeu nenhum
crime, apenas removeu um obstáculo para poder pousar com segurança em suas
Terras.
- Não é o que parece ser.
- É sim.
- Pois bem. Não devo, mas vou acreditar
em você.
- Obrigada.
- Então me fala, Dorothy, qual vai ser a
minha recompensa por realizar seu sonho?
- Como assim?
- Ora, o que vou ganhar com isso?
- Não havia pensado nisso.
- Pois pense logo. Em nosso país todos
devem pagar pelo recebem. Pois, se deseja que eu use meus poderes mágicos para
mandar você de regresso à sua casa, primeiro deve fazer algo por mim – garante
Oz com uma risadinha ameaçadora.
- Que ideia?!...
- Isso mesmo que ouviu. Comigo é assim: toma
lá, dá cá!
- Sim, senhor.
- Ainda bem que entendeu logo.
- Bem, o que posso fazer em troca?
- Simples para você. Basta que acabe a
Bruxa Malvada do Oeste.
Dorothy leva um susto:
- Não, não posso. Nem tenho poderes nem
coragem para tanto.
O Mágico pôs-se a rir. Falando mais
arrastado, com sotaque de malandro, diz:
- Como não, garota?... Você, além de
matar a Bruxa Malvada do Leste, apoderou-se dos seus sapatos encantados. Com
essa inteligência toda, pode muito bem derrotar a última bruxa malvada que vive
nas Terras de Oz.
- Impossível para mim.
- Nada é impossível para uma garota
esperta como você.
- Ora, se o senhor ainda não foi capaz
de acabar com ela, como espera tal façanha de mim?
- Chega de lenga-lenga. Quando acabar
com a Bruxa Malvada, prometo enviar você de volta ao Kansas. Antes, nem pensar!
– conclui Oz num tom áspero.
A menina, sentindo aperto no coração,
observa:
- Engraçado!... Nunca matei um
mosquito siquer, agora vou ter matar um bruxa se quiser sair desse fim de mundo.
Não está certo.
- Não existe certo
ou errado no universo do jogo. Como em um teste de Rorschach de Manchas de
Tinta, as decisões acabam refletindo os valores e a balança moral de cada
jogador. Fica por nossa conta escolher o que julgamos ser melhor. Entendeu?
- Acho que sim.
- Pois bem, o problema é seu e de seus
companheiros – determina Oz. - Adeus e boa sorte!
Assombrada, Dorothy leva a notícia
sinistra aos amigos, que se assustam com as condições do Mágico para levá-la de
volta ao Kansas.
Na manhã seguinte, o Espantalho foi recebido
pelo Mágico. Ao entrar na sala, em vez da cabeça gigante descrita por Dorothy,
encontrou no trono uma belíssima princesa de longos cabelos negros, usando uma
coroa crivada de esmeraldas na cabeça. Dos ombros nasciam duas asas coloridas,
tão leves que se esvoaçavam ao menor sopro.
Encabulado, o Espantalho se curva numa
reverência desajeitada. A figura então diz:
- Sou Oz, o Grande!... Quem é você? E por
que me procura?
- Oh, Poderoso Oz! Sou um pobre
Espantalho, recheado de palha e sem cérebro. Desejo um pouco de inteligência
para pensar e ser homem como qualquer de seus súditos.
- E por que devo fazer isso por você?
- O senhor é um Mágico dadivoso.
- Não faço favores sem recompensa.
O Espantalho franze a testa mal desenhada:
- Desculpe-me, Poderoso Mágico, não
entendi.
A linda figura, com boa linguagem
corporal, aperta as sobrancelhas, dizendo:
– Simples, meu caro. Você precisa de um
cérebro, não é? Pois bem, terá seu cérebro. Em troca, quero que mate a Bruxa
Malvada do Oeste.
- Fez o mesmo pedido a Dorothy!
- E daí? Minha política é essa.
Importa-me pouco quem liquide a Bruxa. Enquanto ela viver, não atenderei seu
desejo, nem o de ninguém. Adeus, boa sorte!
Desolado, o Espantalho deixa a Sala do
Trono e conta tudo aos amigos. Dorothy estranha o Mágico aparecer em forma de
mulher.
- Dá na mesma – observa o Espantalho – pelo
que percebo esse Oz precisa mais de um coração do que o Homem de Lata.
No dia seguinte, foi a vez do Homem de
Lata. Acomodado no trono, ele encontrou um animal medonho, com o corpo cheio de
pernas e cinco olhos grandes, avermelhados e ameaçadores. Tinha o couro grosso
e encaracolado como o de rinoceronte.
- Sou Oz, o Terrível!... – ressoa uma
voz rouca e cavernosa pelo salão.
- Muito prazer.
- Por que me procura? Quem é Você?
- Sou um homem feito de lata, como pode
ver. Venho implorar ao Grande Oz, que tem um coração enorme, que me dê um
coração e me torne igual aos outros do seu reinado.
- Por que motivo eu devo fazer isso?
- Somente Oz pode me ajudar!
- Bem, se deseja um coração deve lutar
para merecer – grunhe Oz.
- Lutar! Como assim?
- Simples, meu caro. Ajude Dorothy e o
Espantalho a liquidar a Bruxa Malvada do Oeste. Depois da missão cumprida, eu darei
o maior e mais amoroso dos corações a você.
O Homem de Lata, decepcionado como os
outros, conta tudo aos amigos, que ficam admirados com o poder do Mágico de se
metamorfosear. O Leão, quase morrendo de raiva, promete:
- Ah, se amanhã Oz aparecer sob a forma
de fera, vou rugir tão alto que, de tanto medo, fará tudo o que eu pedir. Mas,
se aparecer como linda princesa, terei mais chances de seduzi-la com meu charme.
Se estiver sob a forma de uma cabeça, eu a rolarei pelo Salão do Trono como uma
bola de futebol até que atenda todos os nossos desejos.
No outro dia, para desapontamento do
Leão, o Mágico surge transformado numa cintilante e ardente bola de fogo. De
dentro dela uma voz estridente, dizia:
- Sou Oz, o Terrível! Quem é você? O que
deseja?
- Sou um Leão muito medroso. Vim pedir
ao Grande Oz coragem para ser o Rei dos Animais.
- E por que lhe faria esse favor?
- O senhor é o Mágico dos Mágicos, o
único capaz de conceder meu desejo.
- Em troca, o que vou ganhar com isso?
- É só pedir, Grande Mágico.
- Quero a morte da Malvada Bruxa do
Oeste. Enquanto ela estiver viva, permanecerá medroso e covarde.
- Tudo bem.
- Não tentem me enganar. Eu nasci a dez
mil anos atrás. E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais, viu?
O Leão engole em seco com a proposta do
Mágico. E corre para contar aos amigos a conversa.
Dorothy, com ar triste:
- É uma injustiça. E agora, que vamos
fazer?
- Temos que pensar a respeito – responde
o Leão sem titubear.
– Pois então raciocina que devemos
acabar com a Bruxa Malvada do Oeste?
- Paciência. Não vejo outro jeito,
apesar de uma gigantesca desconfiança desse falso mágico.
- E se não conseguirmos?
- Ruim para todos – murmura o Homem de
Lata, cuspindo de raiva.
– Jamais conseguirei um cérebro, o Leão
nunca terá coragem, o Homem de Lata continuará sem coração, e você, Dorothy,
jamais voltará ao Kansas com o Totó – aponta o Espantalho.
- Arre!... – choraminga a garota.
E enxugando as lágrimas:
- Nao pega bem, uma porcaria. Mas já que é assim, não temos tempo para
investigar os mistérios que existem por trás dessa história medonha, acho
melhor obedecer as ordens do Mágico de Oz, mesmo levando em conta que pode ser
uma encrenca anunciada. O pior pode acontecer.
- Também estou indeciso, Dorothy. Mas acho que seria melhor aceitar
o novo desafio imediatamente - afirma o Leão com uma paciência de anjo, que
disfarçava uma ponta de impaciência.
- Tem razão, amigo. Mesmo sem entusiasmo, todos nós temos razões
de sobra para aceitar as condições de Oz, que provou que é um ser que mede as
pessoas por ele mesmo. Que Deus nos ajude!
- Eu também não vejo nenhum motivo para recusar, mesmo horrorizado com ele – aquiesce o Espantalho. – Afunilou de vez, claro. Mas, como
sou otimista por natureza, vejo que essa história está acabando, está próxima
de um final feliz.
- Vivendo e aprendendo!... Oz é mesmo
muito esperto, deu as últimas cartas que tinha na manga - conclui o Homem de
Lata.
Mesmo sem entusiasmo, todos concordam. Decidem
viajar no dia seguinte. O Homem de Lata afia o machado e se lubrifica como de
costume. Espantalho pede a Dorothy para repintar seus olhos para ver melhor e o
Leão disse que iria se deitar logo para sair dali bem descansado.
Dormem cedo. E acordam com o canto de um
galo verde, no quintal do Palácio. Antes de tomarem a estrada, a Moça de Verde,
com afeto muito grande, enche a cestinha de Dorothy de comida apetitosa, além
de amarrar um chocalho barulhento na fita verde do pescoço de Totó.
* FBN© - 2013 – A Maravilhosa Cidade das Esmeraldas – Cap
11 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de
1900, por: Welington Almeida Pinto -
Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.:
Imagens da Internet Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/maravilhosa-cidade-das-esmeraldas.html
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