Total Pageviews

Monday, March 28, 2005

11/XI - A MARAVILHOSA CIDADE DAS ESMERALDAS

*
Ilustração original da edição do
ano de 1900.
 

 
Imagem da Internet



  
 
Dorothy e os companheiros, mesmo com óculos protetores, sentiam os olhos um pouco ofuscados pelo brilho da Cidade das Esmeraldas. As ruas, como se fossem fabricantes de beleza, eram todas calçadas com pedras verdes de mármore e ladeadas por lindas casinhas com vidro verde nas janelas. Nas lojas, tudo era verde, também os doces e pipocas. Obra ambiciosa, um cartão postal, revelando o grande sonho de Oz , que vocábulo nenhum poderia descrever a sua beleza e o seu encanto magnético, onde o pôr do sol é um espetáculo à parte.
Homens, mulheres e crianças cruzavam sem parar de um lado para outro nas praças e jardins, todos vestidos de verde. Quando deparavam com os estrangeiros, olhavam cheios de curiosidade para Dorothy e seu estranho cortejo. As crianças, demonstrando medo, escondiam-se atrás das mães ao ver o Leão.
Os visitantes sem ligar para o que os outros pensavam, desfilavam por diversos lugares, dobravam esquinas, subiam e desciam ladeiras. Totó, sem latir, andava ora na frente, ora atrás, ou no meio do grupo, achando estranho não encontrar animal de sua espécie, ou mesmo gato, a perambular pelas vias públicas. Não havia nem cavalos puxando carroças, porque os carregadores transportavam objetos em carrinhos de mão. Mas, todos pareciam felizes e bastante prósperos.
Em pouco mais de uma hora, o grupo chega ao Palácio de Oz, o Grande Mago. Dois sentinelas, vestindo farda verde-oliva, montavam guarda ao lado do portão real. Dorothy chama por um deles:
- Ei, sentinela, pode falar com a gente?
- Desejam ver o Grande Oz, não é mesmo? – pergunta em tom majestoso um Guardião.
- Sim, senhor.
- Entrem. Levarei a mensagem ao Mágico.
Imediatamente, os visitantes foram conduzidos até um salão decorado com tapetes de sisal verde e móveis de madeira verde.
O soldado, de forma educada, tranquiliza o grupo:
- Fiquem à vontade. Vou até a Sala do Trono comunicar ao Grande Mágico que vocês estão aqui para falar com ele.
Uma hora mais tarde, o guardião retorna confirmando:
- Oz abriu exceção.
- Então ele vai nos receber?
- Claro. Oz é um homem gentil e muito prestativo.
- Legal.
- Podem aguardar.
Dorothy, cheia de curiosidades:
- Você já viu o Grande Mágico?
- Absolutamente. Nunca vi Oz. Falo com ele por detrás de um biombo bordado de ouro.
A menina, mais ansiosa ainda:
- Dentro de quanto tempo ele vai nos receber?
- Serão os próximos. Concederá audiência a cada um de vocês, em separado.
- Como assim?
- Isso mesmo. Receberá um a um, em dias diferentes.
- Dias diferentes!...
- É o que ele disse.
- Onde ficaremos?
- Não se aflija, menina. Terão a honra de serem hóspedes especiais do Grande Mágico.
Nesse momento, o sentinela sopra um apito verde e aparece uma moça de avental verde, cumprimentando os forasteiros. Ela se dirige a Dorothy:
- Por favor, me acompanhe até seus aposentos.
- E meus companheiros?
- Cada um vai ocupar um quarto diferente. É de praxe.
- Tudo bem.
- Não se preocupe, aqui é muito seguro.
- Claro.
- Os aposentos são equipados com uma campainha. Se precisar de alguma coisa, só tocá-la. Vamos?
Dorothy despede dos amigos, sentindo uma pontinha de tristeza nos seus olhos. Com o Totó no colo, segue a moça de verde. Passam por vários corredores até chegar a um dormitório com vista para os jardins do Palácio, iluminado por uma bonita lâmpada de óleo esverdeado. Tudo muito bonito!... A cama, coberta por lençóis de seda verde, era macia e confortável. Na mesinha de cabeceira, descansava um montão de livros que registravam os fatos históricos sobre o Reino de Oz. Era o quarto mais bonito que já tinha visto na vida.
A magia do lugar não parava por aí. Duas paredes de espelhos, uma de frente para a outra, refletiam-se em um jogo infinito de imagens coloridas, como dentro de um caleidoscópio. De qualquer lugar, era possivel ver seu rosto e suas costas, como também o rosto e as costas de todo mundo no meio do cômodo. E, lá no canto da janela, havia uma fonte pequenina, esguichando água de cheiro, que tombava numa bacia de mármore verde. O guarda-roupa, para surpresa de Dorothy, estava cheio de vestidos de seda e veludo confeccionados a mão. Todos do seu tamanho e igualmente verdes.
- Veja bem, Totó, lindos vestidos para mim!... – suspira a garota, encantada.
O cachorrinho, como se entendesse, abana o rabo, concordando. A Moça de verde, antes de se afastar, mostra a porta da casinha para higiene pessoal e sai para cuidar dos outros hóspedes, deixando Dorothy com mil pensamentos tramitando na cabeça. Mas, de tão cansada, ela adormece logo.
O Espantalho e o Homem de Lata também foram acomodados em quartos separados. O Leão teria preferido uma cama de folhas secas nos jardins do Castelo, apesar de tantas regalias. Mas, como era animal de bom senso, não reclamou. Aceitou o conforto de um quarto palaciano e logo começou a roncar pesado.
No meio da manhã, a Moça de Verde entra nos aposentos de Dorothy. Serve o café e sugere à menina usar o mais belo vestido do guarda-roupa. Em seguida, as duas partem para a Sala do Trono. Atravessam vários corredores e chegam a um salão, onde muitas pessoas conversavam entre si. Ao verem Dorothy, uma delas salta da cadeira:
- Você pretende ver Oz cara a cara?
- Sim.
Nesse instante, o Sentinela toma a mão de Dorothy:
- Vamos, garota. O Grande Oz espera por você, embora deteste audiências.
- Serei gentil com ele, prometo.
- A princípio não queria recebê-la. Quando disse que calçava sapatinhos de prata, Oz ficou interessado. Por fim, quando falei da marca na sua testa, decidiu falara com você – contou o soldado.
- E meus amigos.
- Depois. Ele vai atender um de cada vez.
- Bem, se é assim, caminhemos até lá.
Dorothy, ao entrar na Sala do Trono, se encanta com a forma circular do salão e as paredes cobertas de esmeraldas. Mais ainda com o teto altíssimo e côncavo, de onde descia uma luz tão brilhante quanto o sol. Para sua admiração, em vez do Mágico, no trono estava uma cabeça gigante, completamente careca, que desperta curiosidades e tremores na barriga. De repente, uma voz grave ressoa por todos os lados:
- Sou Oz, o Grande!... O Terrível!... Quem é você? E diga logo o que deseja.
A garota acha tudo estranho e assustador. Meio gaguejando, mas sem perder a coragem, apresenta-se:
-Sou Dorothy. Venho pedir ajuda ao Grande Oz.
- Antes me diga onde conseguiu esses sapatos de prata?
- Eram da Bruxa Malvada do Leste. Por azar, minha casa pousou sobre ela e a pobre morreu atropelada.
- E essa marca na testa?
- É do beijo da boa Bruxa do Norte.
- Muito bem, que mesmo quer de mim?
- Que o Grande Mágico me mande de volta para o Kansas, onde mora minha família.
- Por que devo fazer isso por você?
- Preciso sair daqui o mais rápido possível. Como a Bruxa do Norte disse que senhor é um mágico bondoso e cheio de poderes, eu venho pedir seu apoio.
Pausa. Oz:
- Então, você foi capaz de matar a Bruxa Malvada do Leste?
- Não. Não. Foi uma casualidade. Um acidente, claro.
- Acidente?
- Não pude evitá-lo, eu juro. Quem matou a Bruxa foi minha casa. Mas posso dizer que ela não cometeu nenhum crime, apenas removeu um obstáculo para poder pousar com segurança em suas Terras.
- Não é o que parece ser.
- É sim.
- Pois bem. Não devo, mas vou acreditar em você.
- Obrigada.
- Então me fala, Dorothy, qual vai ser a minha recompensa por realizar seu sonho?
- Como assim?
- Ora, o que vou ganhar com isso?
- Não havia pensado nisso.
- Pois pense logo. Em nosso país todos devem pagar pelo recebem. Pois, se deseja que eu use meus poderes mágicos para mandar você de regresso à sua casa, primeiro deve fazer algo por mim – garante Oz com uma risadinha ameaçadora.
- Que ideia?!...
- Isso mesmo que ouviu. Comigo é assim: toma lá, dá cá!
- Sim, senhor.
- Ainda bem que entendeu logo.
- Bem, o que posso fazer em troca?
- Simples para você. Basta que acabe a Bruxa Malvada do Oeste.
Dorothy leva um susto:
- Não, não posso. Nem tenho poderes nem coragem para tanto.
O Mágico pôs-se a rir. Falando mais arrastado, com sotaque de malandro, diz:
- Como não, garota?... Você, além de matar a Bruxa Malvada do Leste, apoderou-se dos seus sapatos encantados. Com essa inteligência toda, pode muito bem derrotar a última bruxa malvada que vive nas Terras de Oz.
- Impossível para mim.
- Nada é impossível para uma garota esperta como você.
- Ora, se o senhor ainda não foi capaz de acabar com ela, como espera tal façanha de mim?
- Chega de lenga-lenga. Quando acabar com a Bruxa Malvada, prometo enviar você de volta ao Kansas. Antes, nem pensar! – conclui Oz num tom áspero.
A menina, sentindo aperto no coração, observa:
- Engraçado!... Nunca matei um mosquito siquer, agora vou ter matar um bruxa se quiser sair desse fim de mundo. Não está certo.
- Não existe certo ou errado no universo do jogo. Como em um teste de Rorschach de Manchas de Tinta, as decisões acabam refletindo os valores e a balança moral de cada jogador. Fica por nossa conta escolher o que julgamos ser melhor. Entendeu?
- Acho que sim.
- Pois bem, o problema é seu e de seus companheiros – determina Oz. - Adeus e boa sorte!
Assombrada, Dorothy leva a notícia sinistra aos amigos, que se assustam com as condições do Mágico para levá-la de volta ao Kansas.
Na manhã seguinte, o Espantalho foi recebido pelo Mágico. Ao entrar na sala, em vez da cabeça gigante descrita por Dorothy, encontrou no trono uma belíssima princesa de longos cabelos negros, usando uma coroa crivada de esmeraldas na cabeça. Dos ombros nasciam duas asas coloridas, tão leves que se esvoaçavam ao menor sopro.
Encabulado, o Espantalho se curva numa reverência desajeitada. A figura então diz:
- Sou Oz, o Grande!... Quem é você? E por que me procura?
- Oh, Poderoso Oz! Sou um pobre Espantalho, recheado de palha e sem cérebro. Desejo um pouco de inteligência para pensar e ser homem como qualquer de seus súditos.
- E por que devo fazer isso por você?
- O senhor é um Mágico dadivoso.
- Não faço favores sem recompensa.
O Espantalho franze a testa mal desenhada:
- Desculpe-me, Poderoso Mágico, não entendi.
A linda figura, com boa linguagem corporal, aperta as sobrancelhas, dizendo:
– Simples, meu caro. Você precisa de um cérebro, não é? Pois bem, terá seu cérebro. Em troca, quero que mate a Bruxa Malvada do Oeste.
- Fez o mesmo pedido a Dorothy!
- E daí? Minha política é essa. Importa-me pouco quem liquide a Bruxa. Enquanto ela viver, não atenderei seu desejo, nem o de ninguém. Adeus, boa sorte!
Desolado, o Espantalho deixa a Sala do Trono e conta tudo aos amigos. Dorothy estranha o Mágico aparecer em forma de mulher.
- Dá na mesma – observa o Espantalho – pelo que percebo esse Oz precisa mais de um coração do que o Homem de Lata.
No dia seguinte, foi a vez do Homem de Lata. Acomodado no trono, ele encontrou um animal medonho, com o corpo cheio de pernas e cinco olhos grandes, avermelhados e ameaçadores. Tinha o couro grosso e encaracolado como o de rinoceronte.
- Sou Oz, o Terrível!... – ressoa uma voz rouca e cavernosa pelo salão.
- Muito prazer.
- Por que me procura? Quem é Você?
- Sou um homem feito de lata, como pode ver. Venho implorar ao Grande Oz, que tem um coração enorme, que me dê um coração e me torne igual aos outros do seu reinado.
- Por que motivo eu devo fazer isso?
- Somente Oz pode me ajudar!
- Bem, se deseja um coração deve lutar para merecer – grunhe Oz.
- Lutar! Como assim?
- Simples, meu caro. Ajude Dorothy e o Espantalho a liquidar a Bruxa Malvada do Oeste. Depois da missão cumprida, eu darei o maior e mais amoroso dos corações a você.
O Homem de Lata, decepcionado como os outros, conta tudo aos amigos, que ficam admirados com o poder do Mágico de se metamorfosear. O Leão, quase morrendo de raiva, promete:
- Ah, se amanhã Oz aparecer sob a forma de fera, vou rugir tão alto que, de tanto medo, fará tudo o que eu pedir. Mas, se aparecer como linda princesa, terei mais chances de seduzi-la com meu charme. Se estiver sob a forma de uma cabeça, eu a rolarei pelo Salão do Trono como uma bola de futebol até que atenda todos os nossos desejos.
No outro dia, para desapontamento do Leão, o Mágico surge transformado numa cintilante e ardente bola de fogo. De dentro dela uma voz estridente, dizia:
- Sou Oz, o Terrível! Quem é você? O que deseja?
- Sou um Leão muito medroso. Vim pedir ao Grande Oz coragem para ser o Rei dos Animais.
- E por que lhe faria esse favor?
- O senhor é o Mágico dos Mágicos, o único capaz de conceder meu desejo.
- Em troca, o que vou ganhar com isso?
- É só pedir, Grande Mágico.
- Quero a morte da Malvada Bruxa do Oeste. Enquanto ela estiver viva, permanecerá medroso e covarde.
- Tudo bem.
- Não tentem me enganar. Eu nasci a dez mil anos atrás. E não tem nada nesse mundo que eu não saiba demais, viu?
O Leão engole em seco com a proposta do Mágico. E corre para contar aos amigos a conversa.
Dorothy, com ar triste:
- É uma injustiça. E agora, que vamos fazer?
- Temos que pensar a respeito – responde o Leão sem titubear.
– Pois então raciocina que devemos acabar com a Bruxa Malvada do Oeste?
- Paciência. Não vejo outro jeito, apesar de uma gigantesca desconfiança desse falso mágico.
- E se não conseguirmos?
- Ruim para todos – murmura o Homem de Lata, cuspindo de raiva.
– Jamais conseguirei um cérebro, o Leão nunca terá coragem, o Homem de Lata continuará sem coração, e você, Dorothy, jamais voltará ao Kansas com o Totó – aponta o Espantalho.
- Arre!... – choraminga a garota.
E enxugando as lágrimas:
- Nao pega bem, uma porcaria. Mas já que é assim, não temos tempo para investigar os mistérios que existem por trás dessa história medonha, acho melhor obedecer as ordens do Mágico de Oz, mesmo levando em conta que pode ser uma encrenca anunciada. O pior pode acontecer.
- Também estou indeciso, Dorothy. Mas acho que seria melhor aceitar o novo desafio imediatamente - afirma o Leão com uma paciência de anjo, que disfarçava uma ponta de impaciência.
- Tem razão, amigo. Mesmo sem entusiasmo, todos nós temos razões de sobra para aceitar as condições de Oz, que provou que é um ser que mede as pessoas por ele mesmo. Que Deus nos ajude!
- Eu também não vejo nenhum motivo para recusar, mesmo horrorizado com ele – aquiesce o Espantalho. – Afunilou de vez, claro. Mas, como sou otimista por natureza, vejo que essa história está acabando, está próxima de um final feliz.
- Vivendo e aprendendo!... Oz é mesmo muito esperto, deu as últimas cartas que tinha na manga - conclui o Homem de Lata.
Mesmo sem entusiasmo, todos concordam. Decidem viajar no dia seguinte. O Homem de Lata afia o machado e se lubrifica como de costume. Espantalho pede a Dorothy para repintar seus olhos para ver melhor e o Leão disse que iria se deitar logo para sair dali bem descansado.
Dormem cedo. E acordam com o canto de um galo verde, no quintal do Palácio. Antes de tomarem a estrada, a Moça de Verde, com afeto muito grande, enche a cestinha de Dorothy de comida apetitosa, além de amarrar um chocalho barulhento na fita verde do pescoço de Totó.
 

 
* FBN© - 2013 – A Maravilhosa Cidade das Esmeraldas  – Cap  11 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de 1900,  por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/maravilhosa-cidade-das-esmeraldas.html
 
- 11 -

 
  
 

No comments: