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Imagem: Internet
Ao passarem pelo Portão da Cidade, o
guardião tira os óculos de cada um. Sem eles, Dorothy observa que seu vestido que
ganhou de Oz não era verde, mas branco, como também a fita no pescoço de Totó.
E pergunta ao servidor:
- Qual a estrada para o Castelo da Bruxa
Malvada do Oeste?
- Não existe caminho para aquelas bandas
– garante o guardião.
Dorothy, quase perdendo a paciência:
- Ah, é! Então, como encontrar essa
Bruxa Malvada?
- Relaxe, garota, relaxe!... Seguindo
para o Oeste, ao entrarem nas terras dos Pisca-Piscas, a Bruxa Malvada do Oeste
vai achar vocês e escravizar a todos.
- Isso é que vamos ver! – urra o Leão,
confiante.
- Destruiremos essa peste em pouco tempo
– promete em voz alta o Homem de Lata, levantando o machado no ar.
- Pois, tomem cuidado. Ela é malvada e
feroz, jamais permitirá que a matem – acautela o Guardião.
- Mas vamos vencê-la – assegura o
Lenhador bradando o machado.
O soldado de barba verde, ainda receoso,
dá seu último conselho:
- Cada floresta fechada, ou campo
deserto que não conhecemos, e no qual aventuramos a explorar é um perigo e uma
esperança, uma promessa e uma armadilha.
E depois de uma pequena pausa
refletindo, conclui:
- Viajantes solitários como vocês devem
manter um pé atrás. Afinal, estão todos no desconhecido e não é possível
reconhecer a maldade de uma pessoa pelo seu rosto. Como há pessoas capazes de enganar
em todos os cantos do mundo, por essas bandas do planeta não é diferente. Estejam
sempre atentos e boa sorte para todos.
A turma agradece e se despede do
Guardião dos Portões. Dorothy e os amigos, hesitando entre a esperança e a
dúvida, tomam rumo do por do sol, na tentativa de encontrar alguma trilha para
tornar menos árdua a viagem.
Assim foram. Na medida em que iam
avançando, a região ficava mais acidentada e cheia de mato, inóspita. Não havia
sítios nem casas, muito menos gente trabalhando a terra. Antes de anoitecer,
Dorothy, Totó e o Leão, de tão cansados, resolvem repousar debaixo da primeira
árvore bem copada que encontram pelo caminho. O Espantalho e Homem de Lata
ficaram montando guarda para proteger os amigos.
Não muito longe dali, a Bruxa Malvada do
Oeste, que só tinha um olho, mas potente como um telescópio e podia ver em
todas as partes, observava os forasteiros nas suas terras. Tanto que viu
Dorothy dormindo com seus amigos em suas terras. Furiosa, resmunga, entre os
dentes:
- Arre!... Gente estranha em meus
domínios!...
Inconformada com a invasão, ela convoca
uma alcateia de lobos enormes, de largas patas e dentes afiadíssimos para
destruir os viajantes.
- Façam em pedaços esses invasores –
ordena ao Rei dos Lobos.
- Não quer torná-los escravos?
- Ficou bobo, bicho!... Um é de lata, o
outro, de palha. Aquele lá, um leão, não tem serventia em minhas terras. A
menina é muito pequena, teria pouco rendimento no serviço, e seu cachorro...
Ai, detesto esse bicho! Não. Não me servem para nada. Vamos, cumpra minhas
ordens: destrói todos.
- Perfeitamente – concorda o chefão.
E virando-se para seus comandados:
- Pelotão, em frente! Atacar!...
Na mesma hora dezenas de lobos disparam
em direção a Dorothy e seus amigos. Como o Espantalho e o Homem de Lata nunca
dormem, logo eles perceberam o perigo.
- Deixe comigo – pede o Homem de Lata,
erguendo o machado.
Assim que os lobos iam chegando, um a um
caía no chão com a cabeça cortada pelo machado afiado do Homem de Lata. Não
ficou nenhum dos lobos para contar a história. Passado algum tempo, Dorothy
acorda e leva susto com a quantidade de bichos mortos. O Homem de Lata
conta-lhe tudo.
A Bruxa Malvada, ao ver seus lobos
liquidados, se enfurece. Sopra duas vezes o apito prateado chamando os corvos
selvagens. E dá ordens severas ao Rei dos Corvos:
- Liquidem com aqueles forasteiros.
- Prontamente, minha senhora.
Um bando de aves da família Corvidae sai voando em direção aos estranhos.
Ao ver o inimigo se aproximando, o Homem de Lata pega o machado para se
posicionar e defender seus amigos, mas o Espantalho dá um salto para frente, e
grita:
- Agora é a minha vez. Fiquem todos
quietos, deitados no chão.
O Espantalho fica de pé com os braços
estendidos para espantar as aves. O Rei dos Corvos, ao notar seu bando
amedrontado, crocita na maior altura:
- Medo de que, seus bobões! Não passa de
um homem de palha. Deixem comigo, vou arrancar os olhos dele.
O Rei dos Corvos investe contra o Espantalho.
Para quê?!... O boneco agarra a ave pela cabeça e torce seu pescoço até o
último chiado. Outro corvo, cheio de ódio, quis vingar a morte do companheiro,
mas também se deu mal, tombando sem pescoço. Como eram mais de quarenta corvos,
por mais de quarenta vezes o Espantalho torceu pescoço de corvo. Não restou um
para levar a má notícia ao Castelo da Bruxa Malvada do Oeste.
A feiticeira, lá do Castelo, ao ver a
pilha de corvos amontoados no chão, fica ‘arara’ de raiva. Tira o apito de
prata do bolso e o sopra três vezes. No mesmo instante, surge um enxame de Abelhas
Negras.
- Piquem os forasteiros até que morram –
ordena a Bruxa à Rainha das Abelhas.
Imediatamente, numa zoada dos infernos,
as abelhas partem para o ataque mortal. O Espantalho, ao perceber os insetos, vindo
em direção ao grupo, toma uma decisão rápida:
- Homem de Lata, temos que impedir que
aquelas abelhas levem a melhor. Tire toda a palha do meu corpo e cubra com ela Dorothy,
Totó e o Leão que ficarão deitados no chão, protegidos das picadas.
- Sim, claro.
- Então manda ver,
rápido!
E assim foi feito. Quer dizer, quando as
abelhas chegaram, de pé, elas só encontram o Homem de Lata. Furiosas, investem
contra ele com tanta violência que quebram os ferrões no ataque. Mutiladas, iam
caindo mortas no chão. Batalha vencida, o Homem de Lata chama Dorothy para
ajudar a recolocar a palha no Espantalho. Depois disso, o grupo se põe a
caminho do Castelo da Bruxa Malvada.
A Feiticeira quase enlouquece de raiva
ao ver mortas suas abelhas. Sapateia. Grita palavrões. Range os dentes. Inconformada, ordena a doze escravos, armados
de lanças pontudas, que impeçam os forasteiros de chegar ao seu Castelo. Outro
vexame!... Como os Pisca-Piscas não eram guerreiros valentes, ao ver o Leão
rugindo, fogem assustados, feito diabo da cruz. Coitados!... Acabam duramente
castigados pela Bruxa.
Agora, a Bruxa teria que convocar os
Macacos Alados para destruir Dorothy e seus companheiros. Para isso, usaria o
último pedido de uma Touca de Ouro encantada, que tinha guardada em seu poder.
Corre ao armário, pega a vestimenta e a coloca na cabeça. Amparada apenas na
perna esquerda, começa a dizer as palavras mágicas:
- Cashiel! Schaltiel! Aphiel! Zarabiel!
Sapo ré Ep-pe! Soila i riê!
Depois, apoiada na perna direita:
- Sapo ré, prequeté! Ziri-zy! Ali-erê,
erê!...
E sobre os dois pés:
- Gunga lá, gunga cá. Zapt Zipt Zupt.
Zu-gunga.
O efeito foi rápido. Em menos de um
minuto, os Macacos Alados surgem aos montes. Satisfeita, passa a ordem ao Rei:
- Destruam os forasteiros que entraram
em meu país, menos o Leão. Resolvi ter o bicho trabalhando para mim.
- Suas ordens serão cumpridas – garante
o Rei dos Macacos Alados.
Rapidamente os macacos voam para o ataque.
Agarram o Homem de Lata e transportam o prisioneiro até uma região de rochas
pontiagudas, onde jogam o infeliz sobre as pedras. Outros macacos tiram a palha
do corpo do Espantalho, embolam suas roupas, as botinas e o chapéu numa
trouxinha e atiram tudo para a copa de uma árvore. Outro grupo de macacos
imobiliza o Leão com uma cordaço e o levam para uma pequena jaula, construída no
quintal do castelo da Bruxa Malvada.
Dorothy assistia a tudo, tremendo de
medo de ter o mesmo destino de seus amigos. Apertava Totó entre os braços,
esperando sua vez de ser atacada pelos malfeitores, que davam sinal
vermelho para os forasteiros.
Mas, um dos macacos toma um grande susto ao ver a marca na sua testa.
Retrocede, gritando:
- Não!... Não!... A menina não. Não
podemos fazer nenhum dano a ela. Está protegida pelo Poder do Bem, que muito
mais forte do que o Poder do Mal.
O Rei dos Macacos analisa a menina,
insinuando:
- Deve ser uma bruxinha perdida neste
fim do mundo!
- O que vamos fazer com ela? – pergunta
um maçado curioso.
- A única coisa que podemos fazer é transportá-la
para o Castelo da Bruxa. E com todo cuidado, ouviram?
Como não falava a
língua dos macacos, Dorothy sorria em desespero, mas assim foi feito. Diante da Bruxa, o Rei dos Macacos
explica:
- O Homem de Lata e o Espantalho foram
destruídos. O Leão já está preso na jaula. A menina, ah, quando vimos que está
protegida pelas forças do bem, não pudemos fazer nada contra ela. Nem ao
cãozinho que carregava nos braços.
- Bom trabalho, macacada.
- Ok.
- Atchim!... Agora chispem daqui. Tenho
alergia a pelos de macaco – rosna a Bruxa, torcendo o nariz.
- Muito bem. Devo lembrar que o seu domínio
sobre os Macacos Alados termina aqui. Portanto, espero ser a essa última vez
que nos vemos – assevera todo satisfeito o Rei.
- Atchim!... Diabo os carregue!...
Os macacos, irritados pela grosseria da
Bruxa, levantam voo e somem entre as nuvens, rapidamente.
A Bruxa, um tipo de 999 anos
idade, túnica rasgada e cabelos esvoaçados, examina o rosto de Dorothy e fica preocupada com a marca na sua
testa. Ao ver o par de sapatinhos de prata nos seus pés, começa a tremer as
pernas de medo, porque conhecia o mágico poder que tinham aqueles calçados.
Pensa até em fugir. Mas, olhando bem nos olhos da garota, percebe a alma
simples e pura por trás deles. E pensa: - Com certeza, ela desconhece o
extraordinário poder desses sapatos. Posso escravizá-la sem o menor problema.
E num tom rude, mas cheia de pose:
- Menina, agora você é minha escrava.
Venha comigo e obedeça as minhas ordens, viu? Caso contrário, terá o mesmo fim
dos seus amigos.
Pobre Dorothy! A Bruxa Malvada, depois
de pronunciar algumas palavras cabalísticas, pega a menina pelo braço e a leva
até a cozinha para lavar a louça, varrer o chão e manter o fogo aceso do fogão
à lenha. Em seguida, sai apressada para falar com o Leão Covarde, disposta a
montar nele como num cavalo para passear pelos campos. Ao abrir a portinhola da
jaula, o felino solta um urro tão alto que a Bruxa recua, rosnando:
- Estúpido!... É mesmo um idiota!
- Idiota é a senhora! – responde o Leão
no mesmo tom, cheio de ódio por se desentender com a velha mandingueira.
- Como é que é?
- Isso mesmo que
ouviu. Eu não sou da sua laia.
- Deixa estar, bicho do mato, um dia
será meu asno, ouviu?
- Nunca.
- Pensa bem, Leão. Minhas mãos podem fazer carinhos, mas também
podem açoitar um animal como você até a morte. Compreende?
Assim dizendo, a Bruxa, arrebata no ar o
chicote de várias pontas que terminavam em bolas.
- Amansarei você pelo estômago. De hoje
em diante só terá comida se me obedecer. Ouviu bem, seu asno?
Chispando fogo como um raio, o felino
ribombou furiosamente:
- Dê o fora de minha frente, velha
pernóstica.
Engolindo uma raiva danada, a Bruxa sai
resmungando. Dias depois, ela volta à jaula e pergunta:
- Já podemos colocar os arreios no seu
lombo?
O felino urra, fazendo uma careta terrível.
- Suma daqui, azarenta!...
O Leão não precisava obedecer a ordens
da Bruxa, porque todas as noites, assim que ela dormia, Dorothy levava
alimentos ao companheiro. Sentava-se ao seu lado e ficavam ali horas, traçando
planos mirabolantes para fugir, mesmo sabendo que o Castelo era vigiado dia e
noite pelos Pisca-Piscas, escravos da Bruxa Malvada.
- Todo cuidado é pouco, mas não podemos
desanimar. Os sonhos nos ajudam a suportar a realidade que estamos
vivendo – encoraja a menina.
- Ainda não saquei a dela com essa vontade de colocar
arreios em mim. Mas, o certo é que precisamos cair fora o quanto antes desse
inferno .
Dorothy trabalhava o dia inteiro, sem
reclamar. De quanto em quando parava de esfregar o chão e se endireitava sobre
os joelhos para olhar para a Bruxa que, volta e meia, ameaçava espancá-la com uma
velha sombrinha. Ameaças, apenas. Por mais topetuda que fosse não se atrevia a
bater na menina, protegida pelas forças do bem. Mas, certa vez chutou um balde
de lixo no Totó que dormia tranquilo num canto da cozinha. Para quê?!... Levou
uma mordida tão violenta na perna para nunca mais mexeu com o cachorrinho, que
sabia muito bem se defender.
A vida de Dorothy, à medida que o tempo
passava, ficava mais difícil regressar ao Kansas. Triste, ela chorava durante horas inteiras,
com Totó estendido a seus pés para demonstrar o muito que sofria por sua amiga.
A Bruxa era mesmo vidrada nos sapatinhos
de prata de Dorothy. Queria tomá-los a qualquer custo. Desconfiada, a menina só
os tirava para dormir e tomar banho, desde que descobrira que a feiticeira
tinha medo de escuro e muito mais de água.
Um dia, a Malvada espicha uma barra de
ferro invisível no chão da cozinha, na qual a menina tropeçou e caiu. Não teve
ferimentos, mas um dos sapatos voou e caiu justamente aos pés da Bruxa, que
pulou de alegria, afirmando:
- Oba!... Agora o sapato é meu.
- Nem pensar – enfurece a garota depois
de um ligeiro estremecimento.
- Quero o outro também.
- Devolva-me o meu sapato, Bruxa
Malvada!
- Não, não e não – recusa a feiticeira,
soltando gargalhadas.
- Você é mesmo uma criatura má, que toma
o sapato de uma criança indefesa!
A Bruxa num gesto de desdém:
- Anda, me dá o outro.
Ao ouvir isso, o sangue sobe à cabeça de
Dorothy. Tomada por um ímpeto de coragem, ela apanha um balde, despeja a água e
molha a velha Bruxa da cabeça aos pés.
- Que é isso, maluca!... Você sabe que
detesto água – esbraveja a Bruxa, apertando as mãos na cabeça, totalmente
desorientada.
- Ah, é!... Sinto muito – diz Dorothy,
vendo a bruxa agonizar.
- Você me paga, pestinha do inferno!...
– ainda berra a Bruxa, enquanto se derretia feito pedra de açúcar numa xícara
de café.
Em poucos segundos, ela desaparece.
Exala-se no ar como pequena nuvem de fumaça. Dorothy calça de novo o sapatinho de
prata, corre até a jaula e solta o Leão Medroso, dizendo:
- Estamos salvos!
- Ahn?
- Isso mesmo. A Bruxa Malvada do Oeste
não existe mais, juro de pés juntos.
- Que notícia mais animadora!...
- Como foi isso?
- Aconteceu sem querer. Joguei um balde
de água na cabeça dela. Em poucos segundos, a miserável se desintegrou no ar.
- A história é meio maluca, mas foi
uma jogada genial.
- O importante é que ficamos livres
dessa malvada e podemos ter do Mágico de Oz nossos desejos realizados.
- Você me espanta com sua sabedoria!...
- Vamos, estamos livres! A bruxa não
existe mais – triunfa a garota.
Risos. O Leão com sabedoria:
- Ela prende e você solta. Fico
devendo-lhe mais essa, menina.
- Agora, temos de encontrar um jeito de
sair logo daqui.
- Ulalá! Ulalá! – aplaude o Leão, não
cabendo em si de contente.
Dorothy cheia de alegria abre um sorriso
glorioso nos lábios, dá um abraço apertado no Leão, que também recebeu elogios
por atos de bravura.
* FBN© - 2013 – Em Busca da Bruxa Malvada – Cap
12 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de
1900, por: Welington Almeida Pinto -
Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.:
Imagens da Internet Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/em-busca-da-bruxa-malvada.html
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