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Monday, March 28, 2005

10/X - O GUARDIÃO DOS PORTÕES

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Em pouco tempo o Leão abre os olhos, bocejando. Ainda meio grog por passar longo tempo entre as flores, respirando seu venenoso perfume, acha esquisito estar dentro de uma carroça.

- Gente, o que aconteceu? – pergunta.

- Você quase partiu dessa para uma melhor!... – brinca o Espantalho.

O felino ainda zonzo:

- Puxa!... Corri o mais rápido que pude, mas não deu.

- Foi por pouco – completa Dorothy.

- Como salvaram minha vida?

- Aí, criatura, é outra história – acresce o Homem de Lata.

- Aposto que contrataram um elefante para me arrastar até aqui?

Todos acham graça. Dorothy então conta para o Leão a história dos ratos silvestres. Ele não aguenta e desata a rir, mal acreditando:

- Que coisa, hein!... Flores aparentemente inofensivas como essas papoulas quase me mataram!...  Animais minúsculos como os ratos me salvaram a vida!...      

- Isso mesmo. De onde menos se espera, acontece – observa o Espantalho, rindo.

Dorothy faz um sinal com a mão, insinuando que já era hora de partir.

- O papo está bom, pessoal, mas é tempo de continuarmos nossa viagem. A estrada de pedras amarelas não deve estar muito longe daqui. Vamos?

Em pouco tempo, sãos e salvos, os cinco amigos andavam no caminho para a Cidade das Esmeraldas, cada um mais esperançoso do que o outro. A estrada, naquele trecho, era bem pavimentada e a paisagem mais bonita.

Por todo canto, existiam sítios com casinhas pintadas de verde e pés de roseiras enfeitando a varanda. Às vezes, algum curioso aparecia na janela para admirar os caminheiros, mas, ao ver o Leão, voltava correndo para dentro da casa. Todos os habitantes do lugar usavam roupas e chapéus pontudos, também verdes.

Dorothy, radiante:

- Ufa!... Pelo que estou vendo, aposto que estamos perto da Cidade das Esmeraldas.

- Podemos perguntar alguém de uma dessas casas – sugere o Homem de Lata.

Os outros companheiros concordam e fazem sim com a cabeça. Depois de andarem um pouco mais, Dorothy bate à porta da sede de uma chácara. Uma mulher entreabre a porta, olha para todos com má vontade e pergunta:

- O que deseja, garota?

- Caso permita, gostaríamos de passar a noite aqui.

- O Leão também?

- Claro. É um animal bom, não ataca ninguém.

- Então é manso? – indaga a mulher, dando outra olhadela no felino.

- Muito.

- Já que é assim, podem entrar.

- Obrigado, minha senhora, pode confiar em mim – agradece o Leão, rindo.

- Entrem – repete a mulher, mais aliviada. – Vocês terão algo para comer e um lugar aconchegante para dormir, posso garantir.

Na casa, também morava um homem que estava deitado no sofá com uma perna enfaixada, ao lado de duas crianças. Eles surpreendem-se ao ver Dorothy com seu estranho grupo de viajantes. O moço abre um sorriso discreto, e dispara a fazer perguntas:

- Para onde estão indo?

- Para a Cidade das Esmeraldas – responde Dorothy.

- Fazer o quê?

- Vamos falar com o Mágico de Oz.

- Acha que Oz, o Grande, vai receber vocês?

- E por que não?

O homem, espreguiçando-se:

- Ele é sistemático, não recebe ninguém. Não conheço uma criatura que já falou com Oz.

O boneco com cara de assustado:

- Por quê?

- Não sei. Como disse: se entrevistou com alguém algum dia, é uma história de gente que pouca gente conta.

- Ele nunca sai?

- Jamais. Passa os dias no grande Salão do Trono de seu Palácio.

Dorothy, curiosa:

- E como é ele?

- Impossível dizer – reponde o homem, pensativo. Nem mesmo os criados do seu palácio conhecem o rosto dele de verdade.

- Como assim?

 - Sendo mágico, toma qualquer forma que quiser. Aparece como pássaro, ou elefante. Há quem diga que é mais parecido com um gato. Mas, pode transformar-se numa linda mulher, num gênio, ou num duende.

O homem, depois de uma pausa, conclui:

- Posso afirmar que nenhuma pessoa viva pode dizer qual a verdadeira face de Oz.

- Muito estranho mesmo!... – encabula-se Dorothy.

- Estranho?

– É, sim, senhor. Mas, temos que ver Oz de qualquer modo.

- Por quê?

- Eu quero um cérebro – adianta o Espantalho.

- Ah, isso é muito fácil. O mágico tem inteligência para dar e vender.

O Homem de Lata adianta um passo, revelando:

- Eu quero um coração.

- Isso também é fácil para o Grande Oz. O que se conta na região é que ele possui um grande estoque de corações de todos os tamanhos e formas imagináveis, guardados no seu palácio.

O Leão Medroso, até então calado, fala do seu desejo:

- E eu preciso de coragem. Muita coragem.

O homem acha graça e ri alto:

- Coragem?!... Ah, dos pedidos é o mais fácil para Oz. Pelo que sei, ele é dono de potes e mais potes de coragem. Portanto, bicho, se for recebido por ele, vai lhe encher de coragem. Pode crer.

Dorothy, toda satisfeita, interveio:

- Eu quero voltar para o Kansas.

O homem, ainda rindo.

- Onde fica o Kansas?

- Não sei dizer. Mas é lá que eu e Totó nascemos e moramos.

- Não se preocupe, Oz é capaz de tudo, pode fazer qualquer coisa.  E você, que pretende? – pergunta o homem ao cachorro.

Totó apenas balança o rabo, não sabia falar. Nesse momento, a mulher avisa que o jantar estava servido. Cada um, de olho na comida, assegura um bom lugar à mesa, menos o Espantalho e o Homem de Lata.

Dorothy saboreia uma sopa de aveia e um bom prato de ovos mexidos com chouriço. Comida que não provava há dias, dando-lhe a sensação de estar na casa de Tia Ema. Satisfeita, elogia:

- Minha senhora, uma delícia seu jantar!

O Leão, limpando os bigodes dos pingos da sopa:

- Hummm, o chouriço desceu muito bem, bastante gostoso!

Totó satisfeito da vida devorava tudo que era servido. Após a farta refeição, a dona da casa conduz os hóspedes aos aposentos, acende a lamparina de azeite e deseja-lhes boas-noites. Cansados dormem logo.

Ao raiar do dia, a turma desperta cheia de ânimo. Dorothy, Totó e o Leão tomam um lanche reforçado servido pela hospedeira. Depois, de malas prontas para pegar a estrada, todos agradecem a hospedagem ao casal e, juntos, retomam a caminhada.

- Tomara que dessa vez seja diferente, sem aborrecimentos – expressa o Leão, caminhando com o rabo entre as pernas.

Por volta do meio dia, ao longe um clarão esverdeado no céu chama a atenção dos viajantes. Dorothy, surpresa:

- Será a Cidade das Esmeraldas?

- Talvez – responde o Homem de Lata.

Na medida em que avançavam pela estrada de pedras amarelas, o brilho ficava mais intenso. Por fim, avistaram a alta muralha circulando a grande área urbana. Animados, apressam o passo. Poucos minutos mais tarde, chegam a um grande portão, todo cravejado de esmeraldas, tão brilhantes que até os olhos desenhados do Espantalho se ofuscaram. Dorothy imediatamente toca a sineta presa no portal. De repente, um anão de pele esverdeada aparece e pergunta com cara de pouca conversa:

- O que desejam na Cidade das Esmeraldas?

- Ver o Grande Oz – adianta Dorothy.

O homenzinho, sem dizer nada, senta-se num tamborete ao lado do portão. Fazendo caras e bocas, examina um a um dos viajantes. Minutos depois, ele fala numa voz firme:

- Se vieram aqui para fazer pedidos, fiquem sabendo que o Grande Oz não admite rogativa fútil. Se enfurecer, é capaz de destruir qualquer um com um piscar de olhos.

- Tudo que vamos solicitar a ele é importante – assegura o Espantalho.

– Ouvimos falar que é um mágico bondoso – reforça Dorothy.

O homenzinho balança a cabeça, afirmando:

 - Realmente. Governa a Cidade das Esmeraldas com sabedoria, competência e bondade. Mas, com os desonestos ou curiosos, Oz é muito severo.

- Errou feio, cara!... Não somos curiosos, nem desonestos – ruge o Leão Medroso.

Assustado, o Guardião dos Portões abre um pequeno sorriso e muda o tom do seu discurso:

- Muito bem, pedem para ver o Grande Oz, então devo conduzi-los ao Palácio. Antes precisam colocar os óculos de lentes verdes.

Dorothy, sem entender:

- Óculos!... Por quê?

- É assim que se entra aqui. São especiais.

- Que história mais estranha, meu Deus?

- Sem eles, o esplendor da Cidade poderá cegá-los para sempre.

De uma caixa verde com vários óculos de lentes verdes, o homenzinho tira um par para cada visitante. E oferece a todos com uma fita verde para prendê-lo em torno do pescoço.

- Parece uma cidade como qualquer outra, mas não é uma cidade como qualquer outra – justifica o Guardião, ameaçando sorrir.

Depois de ver Dorothy e seus amigos usando as lentes especiais, ele abre outra grande porta, e todos, quase mortos de curiosidades, passam a caminhar pelas admiráveis ruas da Cidade das Esmeraldas.
 

 
* FBN© - 2013 – O Guardião dos Portões – Cap  10 de O MÁGICO DE OZ – Adaptação livre do original, editado no ano de 1900,  por: Welington Almeida Pinto - Categoria: Prosa Infanto-Juvenil – Texto original em português - IIustr.: Imagens da Internet  Link: http://omagicodeoz.blogspot.com.br/2005/03/o-guarda-do-porto.html
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